Arquivo da Categoria: Literatura

O Retirado

Eu poderia estar na praça, para ser mais exato, na Afonso Pena, onde além da Estação do Metrô com o mesmo nome, tem uma área coberta com mesas quadradas e bancos,  de cimento, onde o pessoal da chamada terceira idade, se reúne para um carteado, um jogo de damas, de dominó e raramente se vê um tabuleiro de xadrez.

Eu poderia também como primeira opção ficar em casa mesmo, sem sair da minha zona de conforto, me esparramar no sofá da sala, e ficar fazendo palavras cruzadas, Sudoku, zapeando a tv em busca de um filme, de um jogo de futebol, de tênis, ou de basquete, que hoje me desperta mais emoções. Ou pegar o celular e dar uma passada pelas redes sociais, onde tudo o que acontece no mundo, de mais relevante, o grupo da família se encarrega de passar em segunda mão.

Eu posso hoje, me dar ao luxo, de ter todas estas opções, e de desfrutar desta liberdade, apenas concedida aos retirados, aposentados, de não fazer nada, de não ter prazos a cumprir, e fazer apenas o que é necessário para manter a mente sana, diante de um mundo tão insano, e o corpo com o mínimo de equilíbrio para ir e vir.

Palavra cruzada é para os fracos. Eu vou de Java Script, Curso de Espanhol e Escrita Narrativa.Ah! Sim! Ainda brinco no parquinho de quinze em quinze dias embora não possa mais subir  na gangorra.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Sindicato

Regra de Ouro:

“O contador e o tesoureiro de qualquer empresa, jamais deve ser a mesma pessoa”.

No livro Canção para Iara, eu falo naquele ensaio livre, sobre o meu primeiro emprego de carteira assinada no Sindicato dos Estivadores de Rio Grande, que consegui graças a um bom curso de datilografia e ao fato de só haver duas vagas e dois candidatos. Nem precisei de usar o tão famigerado jeitinho do QI (Quem indica), uma vez que o meu pai era o secretário em exercício.

O salário era um salário mínimo que ajudou a minha auto estima ao poder contribuir para o orçamento doméstico, e eu não tinha então aquelas necessidades de consumo.
Foram 2 anos de uma boa experiência profissional e de observação do comportamento humano e uma amostra do que é um Sindicato. Normalmente aos sábados, ao fim de cada mês, formava uma fila na porta do Sindicato, dos Estivadores, homens brutos por conta do trabalho pesado, alguns vindos diretamente do porto com a roupa de trabalho, para receber o salário família, que obedecia o critério de que quem tinha mais filhos recebia mais. Acreditem se quiserem, o que tinha mais filhos era invejado pelos demais. O pagamento era feito em dinheiro pelo tesoureiro em um único guichê. Alguns deles já chegavam embriagados, e ficavam impacientes e agressivos, principalmente com o tesoureiro, e um deles arremessou um cinzeiro de vidro,  daqueles que ficavam no balcão e felizmente não acertou ninguém, nem o tesoureiro que era o alvo da agressão.

Mas o causo que teve mais sensação e que foi devidamente abafado pela imprensa local, quem sabe para não desabonar a imagem do Sindicato, e eu fui testemunha ocular, foi o descrito abaixo
:

Chegando para trabalhar encontramos o Presidente do Sindicato em exercício, enrolado na Bandeira do Brasil, aos prantos. Uma cena digna da novela “O Bem Amado” de Dias Gomes. Havia perdido ou gasto, – o que é a mesma coisa – , dinheiro do Sindicato, com jogo, mulheres e bebidas em Porto Alegre, em um congresso sindical.

Este é o post de número 160. Um divisor de águas. Mas não vou contar mais. Ainda não me atrevo a nadar depois da arrebentação.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Homem que andava em cima do Muro.

Ao contrário do que muita gente pensa, de que em cima do muro, é o lugar mais confortável para se estar, a chamada zona de conforto, muito pelo contrário, é  onde se sofre a pressão do vento, dos dois lados em que ele sopra. E o vento aqui carrega todas aquelas cargas habituais de ideologias políticas e religiosas, que já são suficientes para desequilibrar qualquer paisano, independente do lado do muro que mora.

O muro aqui não pode ser representado pela Muralha da China ou o de Berlin, que foi derrubado e as pessoas do lado Oriental puderam abraçar as do lado Ocidental, que por vários motivos, o principal deles de natureza ideológica, foram obrigadas a ficar sem poder escolher um lado.

O que ninguém fala ou sabe é o que levou este homem a escalar o muro e lá permanecer, sem se sentir tentado a pular para o outro lado. Imaginar que as coisas do outro lado, em essência, não são muito diferentes, é um bom início de conversa.

Vamos imaginar que um paisano Colorado desde  criancinha, um dia escala o muro. E lá de cima contempla um mar de pessoas com camisas azuis, que desde pequeno ouviu falar que eram os inimigos a serem batidos dentro das quatro linhas, a princípio, e depois com a criação das torcidas organizadas, a coisa se expandiu para as arquibancadas e hoje divide o Rio Grande, o “Estado”.

Voltando a imagem, neste dia sopra um vento minuano daqueles que levanta tampa de silo em beira de estrada. O paisano devidamente fardado com o manto Colorado, cai naquele mar azul de Gremistas.A questão da história é: – Se ele não for linchado, por uma destas intervenções divinas, vão obriga-lo a vestir a camisa do Grêmio, cantar o hino 4 vezes ao dia antes das refeições, no processo de conversão.


A moral da história é: Ele deixará de ser Colorado?

Por: adolfo.wyse@gmail.com

A Paz, a Guerra e a Resistência.

Tanta gente do nosso tempo, da nossa geração, a turma nascida  em 1950, que a gente só veio a conhecer, quando se destacou em alguma área e mereceu o destaque nas mídias, ou quando morreu e teve o mesmo destaque, com alguém tecendo aqueles elogios pela vida e pela obra.

O conceito pode ser aplicado a qualquer turma e época. Ontem mesmo, passeando pela TV, assisti meio tempo da decisão da Liga dos campeões, vi dois episódios de uma série, assisti  um quarto dos playoffs da NBA e zapeando fomos agraciados com um documentário no canal Arte 1 sobre a vida de Pablo Casals, um dos maiores violoncelistas, do mundo. Que dedicou a sua vida a levar a música de Bach para melhorar a harmonia entre os Povos. Mas que lutou e resistiu bravamente aos regimes de Franco, Mussolini, Stalin e Hitler. Morreu em 1973 com 97 anos.


Como eu disse era de outra turma, e que só vim a conhecer ontem e olhem que a TV já era a mídia dominante em 1973.
Passou a ser da minha turma no momento que me inspirou, a muito mais do que escrever este post.

A palavra resistência do título é totalmente dedicada a ele. A Paz e a Guerra, que parecem gêmeas siamesas, são dedicadas a Liev Tolstói, autor de “Guerra e Paz”, um tratado de 1225 páginas sobre as guerras Napoleônicas na Rússia.

Já ouvi falar e custo a acreditar,  que as guerras fazem parte de um plano maior de controle populacional. Mas o papo mais furado mesmo, é o argumento de que as guerras existem para promover a Paz.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Trem é Aqui.

Esta noite como tem acontecido com frequência, a minha alma ou espírito, ainda não consigo identificar quando é um ou outro, (e as vezes fico me perguntando se não são a mesma coisa, melhor dizendo, pessoa, que atende pela denominação masculina ou feminina), resolveu dar uma voltinha, e desta vez, o transporte escolhido foi o trem. Não o do metrô ou aquele mais glamouroso como o Espresso do Oriente. Foi o da Supervia mesmo, que tem na Central do Brasil, o seu ponto de partida para vários destinos, levando e trazendo trabalhadores de casa para o trabalho. No meu caso a estação de Campo Grande foi o destino e serviu de cenário para toda a ação.

No primeiro ato, o trem parava na plataforma, mas em um nível mais alto, que as pessoas não conseguiam embarcar.
No segundo, encontrei uma amiga na plataforma que quando correu para embarcar deixou uma sacola no chão. Quando eu peguei a sacola e corri para alcança-la, a porta do vagão começou a fechar, mas alguém segurou e consegui entrar. Observei que ela não estava bem, tinha emagrecido, e deduzi que estava passando por maus momentos, que tinha se separado, ou perdido o emprego, mas não tive tempo nem
coragem para perguntar.

No terceiro e último ato, estava na plataforma da estação de Campo Grande e perguntava para uma funcionária se estava no sentido certo para voltar para a Central. Ela mesmo não sabia. Não sei porque sai da estação e avistei um ponto de ônibus, com uma imensa fila. O primeiro chegou lotado e não deu para entrar. Acordei pensando se neste mundo dos sonhos aceitasse cartão, as coisas seriam mais fáceis.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Peixe morre pela Boca

Eu poderia classificar cada post diário em uma categoria e o Blog me permite isso, como vocês podem ver, sublinhado em vermelho, em cima, depois da data: Categoria: Literatura.

Assim daria a cada um o poder de escolher o assunto da sua preferência, sem precisar passar por todos aqueles outros, que formam o conteúdo de qualquer jornal.

Quando lia qualquer jornal Ia direto pro caderno de cultura onde estavam os assuntos de meu interesse, filmes, livros, shows e peças de teatro. No Jornal do Brasil era o Caderno B.

É como, guardadas as devidas proporções, abrir o horóscopo para a primeira consulta do dia, após o café, e ter que ir lendo a previsão de cada signo, até chegar no seu, que é o que realmente interessa e vai influenciar no andamento do seu dia.

As categorias mais conhecidas que habitam as páginas dos jornais, desde os mais populares até aqueles que tem na classe média seu público alvo, são: Página Policial, de Política, que junto com os classificados de toda ordem ocupam a maior parte e depois,  a Página social, de Esportes, de Cultura e a indefectível seção dos obituários.

Prometi a mim mesmo no início deste mês que não ia escrever mais sobre BBB, Política, Futebol, Assuntos policiais etc… Tem dois dias que eu quebrei a promessa falando de passagem mas citando o BBB. E depois de ver o Inter perder mais uma vez o Grenal, tô com a minha língua coçando pra falar. Falar mal.

Nasceu aí o título do post.

O fato é que se eu continuar tão seletivo, não vai sobrar assunto e eu corro o risco de escorregar para o movediço terreno religioso e ter que lidar com o ódio das bancadas que se sentirem menosprezadas.

Seguindo a orientação do meu segundo guru mas artes das letras duras, Júlio Cortazar,  “Nem tanto ao mar nem tanto a terra”.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Semeador

Quando eu fiz a primeira edição do Livro “Canção para Iara” em 2011, uma edição caseira, como se diz, para consumo próprio, distribuir para os familiares e amigos,  50 exemplares que estavam dentro do meu orçamento, a editora foi a Virtual Books. E fiquei muito feliz com o resultado gráfico.

Por um destes mistérios que só o Google pode explicar, recebi um email de uma mulher me consultando sobre a editora, dos custos e coisa e tal. Respondi e ainda disse que iria mandar um exemplar, que ela me passasse o endereço e para minha surpresa morava a três quadras daqui. Deixei então na sua portaria o livro.

No dia seguinte recebo um E-mail agradecendo e  que para meu duplo espanto dizia:  – Obrigado por salvar minha vida.

O primeiro espanto foi perceber o peso das palavras. O segundo, o tamanho da carência humana.

Antes de começar este post fui consultar o significado de semeador, e diz assim: – que ou quem semeia e por metáfora, que ou quem divulga idéias e doutrinas. Seguindo o link,  me deparei com a Parábola do Semeador, literal e explicada didaticamente, por Jesus. Até então eu não conhecia e como a própria parábola fala, não tinha ouvidos para ouvir. Independente da sua crença religiosa, dê uma espiada, só vai te enriquecer espiritualmente. Salvei e vou usar em minha meditação diária.

Hoje após mandar aquelas mensagens motivacionais de bom dia para a minha lista de transmissão, recebi de um membro um agradecimento.

“Bom dia Adolfo, obrigado pelas mensagens diárias, tem me ajudado muito. A de hoje então, está perfeita. Grande abraço.”

Acabei de descobrir o que eu quero ser quando crescer: – Um semeador da palavra. Uma palavra imantada de amor, humor, amizade, solidariedade e de Paz. Como disse John Lennon: – Sou um sonhador, mas não sou o único.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Quer aparecer, aparecido?

O pessoal antigo, alguns da minha turma, usavam muito aquele ditado popular que dizia: Se você quer aparecer, pendure uma melancia no pescoço. Com o advento da televisão e aqueles programas de auditório de grande audiência, qualquer um podia aparecer como calouro ou um daqueles sorteados para participar de gincanas de conhecimento entre duas equipes.

O campeão de audiência atual,  e que bom que só dura uma vez por ano, é o BBB, que só de pronunciar a sigla, minha alma estremece, e não consigo deixar de escapar um:  – Tende piedade Senhor!

O fato é que tem lista de espera para ser indicado e depois de passar por um filtro que não fica nada a dever aquele aplicado em qualquer circo de horrores, os mais
Bizarros são eleitos para exibir suas bizarrices que vão muito além de tatuagens e piercings, que já fazem parte da cultura popular.

Alguns, antigos ou novos, acabam por se destacar naturalmente, sem recorrer a roupas extravagantes ou espalhafatosas, por carisma de liderança, pelo   comportamento, pela inteligência, normalmente o critério de maior destaque.

Aqui entra aquele divisor de águas,  que vai colocar de um lado os extrovertidos e do outro os introvertidos, em maior número, arrisco mesmo a dizer na proporção de 80/20. Estou no lado dos inibidos. Os desinibidos estão no momento sendo chamados e classificados em uma nova categoria, como Influencers digitais, o que não quer dizer necessariamente, que o cara ter um milhão de   seguidores pode ser considerado um formador de  opinião. Essa coisa de segue o líder, deixou de ser sério, desde que a torcida do Flamengo, adotou o slogan, para humilhar os times abaixo na tabela.

No fundo,  lá no fundinho do inconsciente, – tô falando do meu, não do coletivo, – se esconde o desejo de ser reconhecido, e quem não é visto não é lembrado. E querer ser reconhecido é diferente de querer ser  importante, apesar de serem vizinhos na rua onde mora a vaidade.

Hoje estou mais para perseguidor do que seguidor ou líder de audiência, basta olhar o número de amizades no Facebook. Não passa de 110,  incluindo aí o seio familiar
que ocupa 50% da lista.

Persigo hoje ser uma pessoa mais útil naquele raio de ação que possa alcançar. Para isso, sigo sim, aqueles grandes líderes, que hoje são (Hors Concours ) , que um dia transcenderam a si mesmos em todos os campos da atividade Humana, especialmente nas Ciências e nas Artes.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Primeiros traços do dia

A madrugada ainda bocejava quando acordou e ficou deitado alguns minutos repassando os sonhos para não esquecer e quem sabe poder usar algum na postagem do dia. Mas bastou o tempo entre o levantar, lavar o rosto, escovar os dentes e tomar o café,  quarenta minutos depois, seguindo uma recomendação destas encontradas na internet,  de tomar 2 copos de água em jejum, para melhorar o metabolismo e quem sabe ajudar no fluxo intestinal,  – mais engarrafado que Avenida Brasil na hora do rush -,   para esquecer tudo.

Oxalá, estejam em algum arquivo temporário na área de transferência.

Com os primeiros pensamentos do dia aconteceu a mesma coisa. E dizem, são os mais limpos, ainda livres da poluição mental enquanto não começamos nosso passeio pelas redes sociais. Lembro de um e vou tentar resgatar até o fim deste post a frase que tinha a ver com a história do copo meio cheio, de como o otimista e o pessimista o viam. Trazia embutida também os sentidos de agradecer e reclamar.

Já fiz o caminho de volta e não encontrei. Desapareceu como aquelas frases que a gente escreve na areia da praia. Só me resta me desculpar e prometer assim que lembrar, fazer um adendo e fazer soar os sinos das notificações.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Rascunhos

A frase mais conhecida estampada normalmente na primeira página destes manuais de auto ajuda é: “Toda jornada começa com o primeiro passo”. Para reforçar, é possível encontrar na mesma página aquela outra frase: – “Para construir uma casa se coloca um tijolo de cada vez”.

Está é uma regra universal que é aplicada em todos os estágios do desenvolvimento, inclusive na literatura, que se diferencia apenas quando na aplicação do verbo. Criar ao invés de construir. Um pedreiro pode construir 10 casas com uma  arquitetura diferente. Alguém criou os desenhos.

Gosto de comparar a imagem de uma mulher tricotando. Se ela tiver um modelo, mesmo que ela não tenha feito nenhum curso, nem uma avó que passou as dicas dos pontos, dos contrapontos, ela até vai conseguir fazer os sapatinhos de bebê, uma manta ou um cachecol, apenas vai levar mais tempo e despender um esforço maior. No caso de ela ter feito o curso ou recebido a orientação da avó, a primeira dica é ter um modelo ou um desenho do que pretende criar; senão vai gastar Lâ a toa, e o resultado vai servir apenas como aqueles suportes de mesa que ficam escondidos embaixo de travessas.

Com a escrita não é tão diferente.

Como uma criança que desenha uma casa e depois começa a introduzir por ordem de importância em primeiro lugar, em  segundo de aparição, os  personagens. A Mãe é a primeira, o Pai , os irmãos, os vizinhos, os amigos e amigas. Assim, o Universo vai se expandindo e as histórias vão nascendo.

Por: adolfo.wyse@gmail.com