Arquivo mensal: Maio 2020

O Clube

O clube

Dizem que existe um clube seletíssimo onde os destinos das nações são traçados. Onde se reúnem, uma vez por ano, em local e data nunca fixos, lideranças políticas eleitas ou destituídas conforme ordens expressas emanadas de lá.

Considerando o poder que cada sócio carrega ou representa, fica difícil imaginar uma mesa de reunião à “La Távola Redonda”; o mais razoável é uma mesa retangular onde, à cabeceira, apenas um coordenador de reunião com um estatuto e um código de conduta à mão secretaria e leva a reunião em boa ordem. Um computador de última geração, patrocinado em conjunto pela Microsoft e Apple e com o Google Maps atualisadíssimo para dar aos sócios toda a movimentação geopolítica e um banco de dados completo, auxilia na tomada de decisões.

Se vocês pensaram, como eu, que os personagens que aparecem com frequência em fotos de reunião do G7, G20 são membros desse clube, com certeza tem uma cadeira onde alguém os representa. E ficamos a nos perguntar: o que é o Poder? Qualquer um pode representá-lo?

Tentando responder a essas questões alguns homens queimaram mais do que as pestanas; Giordano Bruno foi um deles e era muitíssimo respeitado, ao ser levado para a fogueira, entendeu: “Que ingenuidade a minha! Pedir, a quem detém o Poder, para reformá-lo!”.

Voltando ao clube, existem sócios pessoas físicas (bilionários em geral), pessoas jurídicas, empresas que detêm o PIB de algumas nações, lideres religiosos, cada um representando o seu nicho, e não vamos esquecer da mídia, cujo representante pode vir a ocupar duas cadeiras, não porque seja gordo ou mais poderoso, mas por ter o nome na lista dos bilionários também.

A razão de ser desse clube está definida e expressa em um banner móvel, exposto na parede da sala de reunião, a exemplo do que vemos em qualquer empresa moderna:

– Nossa Missão –

Manter o capitalismo como sistema único e absoluto. Haja o que houver. Custe o que custar. E em letras miúdas: “distribuir riquezas quando sobras houver”.

A crise de 2008 serviu para demonstrar, sem nenhuma sombra de dúvida, que os problemas do mundo não são decorrentes de falta de lastro. Tanto é assim que a grana veio em sua maior parte da China, país que há pouco passou a ocupar uma cadeira no clube, que naquele ano reuniu-se em dia e local desconhecido.

Falam as más línguas, a minha incluída, que após a reunião os sócios fizeram uma festinha fechada, coisa íntima (em ambiente totalmente blindado) para descarregar as tensões e aliviar as pulsões, afinal são seres humanos e é uma prática comum hoje, após seminários ou conferências, patrocinados ora aqui ora ali, por alguma indústria farmacêutica ou cia. de seguros.

Pitágoras

Pitágoras

Até hoje não sei se o “Pitágoras” compunha seu nome verdadeiro. Tudo o que sei e pretendo aqui narrar é que ele era professor de matemática, o que já deixa uma pista de, no mínimo, uma associação imediata com àquele, O filósofo e matemático grego autor do famoso teorema que leva seu nome. Acredito que qualquer possibilidade de filiação esteja descartada, já a questão da reencarnação, ainda não estou pronto para discutir sobre o assunto.

O fato concreto, embora ainda um pouco confuso em relação ao ano, vamos nos situar aqui entre 1965/1966, na cidade de Rio Grande, úmida e cinza como a minha depressão, que só mais tarde eu iria poder identificar, reconhecer e rotular.

Esse mesmo distanciamento crítico me permite afirmar que a mudança de volta a Rio Grande, depois de ter estabelecido laços afetivos com gente e com a cidade de Porto Alegre, não foi o detonador das minhas infelicidades. Eu já estava ruim da cabeça a ponto de abandonar o 4º ano do ginásio, que fui repetir no curso noturno na Escola Lemos Junior onde a maioria dos alunos eram filhos dos estivadores, jovens pré-adultos que não estavam “nem aí para a hora do Brasil”.

Conheci então o professor Pitágoras. Um homem magro, estatura média. Chamou-me para fazer um teste de avaliação e eu, que me gabava de ser bom em raiz quadrada e regra de três, travei completamente quando me apresentou às equações. Naquele ano a média 7 era a exigida para passar de ano.

Tinha noites em que ele entrava na sala e falava: quem quiser discutir futebol vem aqui pra frente, quem quiser dormir, pode dormir ou até mesmo ir embora. Em outras, ele dava a sua aula sem que se ouvisse uma mosca voando, tal a atenção que despertava.

Segurou a minha caderneta até o fim do ano, sem que eu soubesse a quantas andava a minha média. Na verdade eu sabia que estava abaixo de 5, de modo que fiquei para uma prova final, a qual fiz ao lado de meu irmão Zeca, que era de outra turma. Comecei a fazer a prova e, antes mesmo que eu acabasse, aproximou-se, recolheu minha prova e me entregou a caderneta com a média 7 averbada. Fez o mesmo com o meu irmão.

Boa Noite Dr. Freud…

Boa noite dr. Freud

Estava passando, vi a porta aberta… Posso sentar?

Sonhei que escrevi um livro. Nesse livro, cada página tinha um rosto familiar e amigo. Não é um livro grande, quero dizer, com muitas páginas, tipo romance ou dicionário. É um livro curto. Tipo de bolso. Na verdade, o que importa é o seu conteúdo, ou seja, o que ele tem dentro de si, esse espelho que permite a identificação instantânea com a forma, que alguns chamam de Literatura e outros tratam como apenas, isso mesmo: literatura.

Mas o motivo principal, que me traz aqui essa noite, não é a literatura. Nem mesmo a psicologia, em si mesma. O que me traz aqui é uma necessidade de conversar, soltar o verbo, a voz, o corpo e a culpa, que têm empurrado tanta gente pelo despenhadeiro…

Não desprezo a forte importância que a sexualidade exerce sobre a personalidade e o caráter. O senhor mesmo desenvolveu uma teoria, respeitada até hoje, sobre o assunto. Confesso que não li e não gostei. A minha mulher diz que é resistência. Eu prefiro chamar de insistência em resistir.

No momento, o que me incomoda não é tanto a ejaculação precoce, mas sim, a incontinência urinária. Não tenho medo de morrer. Morrer não dói. Conheço a morte de vista.Só não queria que fosse agora. Imagine o senhor que eu descobri que existe culpa depois da morte.Por essas e outras razões, tenho procurado e encontrado quem exorcize esses medos. São os artistas e pessoas que tenho o privilégio de conviver no meu dia a dia.

Estou convencido de que a repressão gera o ladrão, a corrupção, a prostituição em todas as suas variadas formas de expressão.Uma pessoa nasce e cresce estimulada pelo ambiente que a cerca. Quando começa a tomar o gostinho da vida, as inevitáveis perguntas aparecem: “quem sou eu? O que estou fazendo aqui?”.

Não existe uma receita comum. O que serve para mim não necessariamente pode ser apropriado para o outro. As experiências de vida são únicas e subjetivas, o que não deixa de ser um toque mágico do dedo de Deus. É bem conveniente crer que esse processo é comum a todos. A roda da vida. Mais cedo ou mais tarde, cada um tem o seu próprio tempo para experimentar aquilo que o outro passou outro dia. Parece justo.

Existem algumas palavras que são tão subjetivas que merecem uma atenção especial. A alienação, por exemplo, o que significa? Para mim, significa estar ausente (de si?), ou estar presente em si mesmo e ausente do que o circunda? Outro exemplo: um homem lê uma revista em quadrinhos, outro lê o romance mais lido de todos os tempos. É difícil medir, não lhe parece?

Uma Imagem Vale Mais …

Um paysano queima literalmente as pestanas e os neurônios para escrever um texto que possa atrair visitantes para o seu blog (SITE), faz a postagem, e o que acontece: Nada, neca de pitibiriba, como diria o Barão de Itararé. Nem sequer uma curtida, um like. Enquanto espera olhando pra tela observa que a foto do perfil já está desgastada e resolve trocar por uma que encontrou, que favorece todos os ângulos e voi-lá!

Logo, logo começam a pipocar curtidas e comentários!

E como acabamos de demonstrar,  uma imagem continua valendo mais que mil palavras.

Sobre o Desapego

A primeira vez que tive que desapegar da minha discoteca de vinil, os bons e velhos LPS, alguns importados a preço de ouro, leia_se USS , foi quando da primeira mudança de apto. Doei ao cara do transporte com o coração partido.

A segunda vez já foi uma decisão voluntária e sem danos emocionais. Agora os CDS que apesar de ocuparem muito menos espaço físico precisavam de um CD Player e um Receiver para tocarem. Mais ou menos quatrocentos que vendi a preço de banana quase todo o lote.

Havia passado disco por disco para o computador. 

Para encurtar a conversa esta semana comprei um leitor e gravador de cd externo para poder restaurar a minha discoteca que  perdi quando o meu Mac deu pau!

Vocês devem estar se perguntando: Pra que isso se  hoje tem vários Apps de Streaming, tipo Spotify e outros que te oferecem Milhões de músicas por vinte pilas mensais! Então eu respondo: E o prazer de organizar por artista e por álbum, capinha por capinha…

Retrato do Artista quando …

É uma grata satisfação para mim anunciar este livro. Esta – “proezia” – já que o autor, entre a prosa e a poesia, escolheu as duas. Talvez porque entenda que as duas formas levem e traduzam aquilo que é a razão de ser da Literatura, não a sua função: imitar a vida. Cantar os seus cânticos sublimados, sujos, miseráveis, indecentes, líricos, heroicos – cotidianos cantos– efêmeras nuvens de música, que passam em segundos, como uma eternidade.

Canção para Iara é uma canção de agradecimento junto à Literatura e à vida. É um retrato pequeno, retrato 3×4, honesto e puro de um homem que sofreu 35 anos para dizer algo que não conseguia expressar, porque não tinha aprendido: o amor. E esse, meus amigos, é o exercício mais difícil, porque é diário e insaciável e não pode ser comprado, alugado ou vendido.

A Literatura também é um exercício diário e solitário, mas busca sempre o outro, esse leitor solitário também…

Esse é um prefácio de orelha, portanto, a regra diz: deve ser sucinto e sintético. Quando você tiver fôlego suficiente (pare de fumar, Adolfo), escreva um romance… Tenho até um título para ele: “Retrato do Artista Quando Velho”.