Arquivo mensal: Janeiro 2024

Lambendo a cria.

Um escritor famoso, que gosto muito, e que não vou citar o nome, para não pensarem que estou ostentando cultura e porque ele não precisa mais de propaganda instantânea, para ser reconhecido, disse que um livro, depois que é publicado e ganha as águas do mercado, que cruzam fronteiras, e chegam nas feiras locais, nacionais e internacionais; passa a ter vida própria, a andar com suas próprias pernas, empurrado pelo boca a boca, e aqui e ali por uma crítica positiva, patrocinada algumas vezes por empresas, mais interessadas em vender um produto, do que disseminar cultura.

Atualmente, nem relógio trabalha mais de graça. Depois que inventaram os digitais, aqueles analógicos com precisão Suíça, entraram em greve indeterminada, atrasando os ponteiros das horas e dos minutos, por conseguinte, no que passamos a chamar de operação tartaruga, uma vez que uma paralisação total, geral e irrestrita, seria considerada ilegal e, portanto, sujeita a multa e outras sanções previstas no tribunal superior internacional do trabalho.

Recebi esta semana um exemplar impresso do meu livro “O Correio da Tijuca”. Como todo pai orgulhoso, corri para conhecer e lamber a cria. Nasceu enrugado e feio como nascem os bebês. Aos poucos fui folheando as páginas, olhando a capa, a contracapa, as orelhas, e a aparência aqui vale tanto quanto aquela que precisamos manter, não só no primeiro encontro, com o leitor, que vai ter um peso decisivo na aceitação do livro, e mexer com a autoestima do autor, para cima ou para baixo, a depender de seu estado emocional.

Quando é um bebê, é feito um convite de boas-vindas, com o nome, a cor, o sexo e o peso, que já vai começar a formar uma identidade social. No caso do livro, é feito um convite também, com nome do livro e do autor, E ao invés de peso, é medido por páginas, e em vez de chá de bebê, o convite é para o lançamento, e aqui o lugar, o número de convidados, vai depender, como todo evento, dos recursos disponíveis, financeiros e de divulgação.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O Sonho de Hoje

Foi um daqueles que você acorda buscando uma câmara escura ou uma impressora, para revelar e imprimir as imagens gravadas que ficarão salvas na memória do paisano, a maioria, na verdade, como vídeos, com movimento, cor, áudio.

O cenário parecia ser muito Teresópolis, o que se confirma quando alguém fala: fica ali na Várzea, entre o alto e o centro, e se referia a um hotel, que dava os fundos para uma encosta lisa de um morro, com uma enorme torre de transmissão no meio da visão da janela dos fundos.

O que mais me impressionou foram os desenhos da fachada em madeira, com portas, janelas e varandas, esculpidas como se fosse uma maquete em tamanho natural. Não consigo descrever a beleza dos entalhes arabescos nas bordas.

Estava com um grupo que, por duas vezes, se reuniu ao ar livre, no pátio e em uma quadra de esportes que estava em construção.

O sonho termina,  é interrompido ou sofre um corte na edição, quando entro no hotel, e vejo alguns funcionários arrumando a mesa para o café da manhã, no salão das refeições.
Antes que eu pedisse, um deles me oferece um café expresso, tirado de uma máquina em cima de um aparador, com uma cestinha de pão de queijo.

Por: adolfo.wyse@gmail.com


Curtir, comentar e compartilhar.

O velho e bom CCC, comandos que nos permitem interagir nas redes sociais, revelam muito sobre o caráter,  personalidade, crença religiosa e política, das pessoas, algumas com um avatar no perfil, que já indica, ou dá uma pista, do retrato falado, como aqueles dos filmes policiais, onde a testemunha ou a vítima tenta descrever o elemento.

Hoje, depois da explosão da internet, já temos especialistas que se debruçam e estudam esse comportamento, sob todos aqueles pontos de vista, que observam o ser humano; a psicologia, a sociologia, a filosofia.

No começo, creio que com todo mundo foi assim, aquela excitação do novo, de um espaço aberto, onde podemos exercer, muitos pela primeira vez, a liberdade de dizer o que sente, o que pensa, sobre estar no mundo. Sobre este mundão de Deus, a aldeia global.

Tudo ia muito bem, até que os primeiros choques culturais começaram a ser travados, e os grandes patrocinadores, que não são bobos, nem nada, viram uma grande oportunidade de enfiar goela abaixo, sem distinção de sexo, cor, idade, posição social, os famosos anúncios, propagandas, nos fazendo de cobaia, para chegar onde chegamos: Os algoritmos.

Após anos me defendendo de ataques diários de catequese e doutrinas religiosas e políticas, optei por não comentar mais nada. Nem sobre um quadro, uma música, um livro. Hoje eu apenas curto e compartilho. Sem tentar convencer ninguém ou sugestionar. Cada um tem olhos  e ouvidos para sentir. Uma sensibilidade.

Quando o ditado diz: Religião, Política, e futebol, não se discute; assim como não se discute com bêbado, é porque é fruto da sabedoria popular. Assim como aquele outro: Pente, escova de dente e mulher não se empresta. Nem para os melhores amigos.

Por: adolfo.wyse@gmail.com