Arquivo mensal: Abril 2020

O Fim

DO LIVRO: FICÇÕES de Jorge Luiz Borges – Um dos textos mais bonitos sobre o duelo entre Martim Fierro X Moreno. O Desafio pode ser ouvido na Sala de Música.

Recabarren , estendido na cama, entreabriu os olhos e viu o céu azul refletido no teto do quarto.

Da outra peça chegava um acorde de guitarra. O executor era um negro que havia aparecido uma noite com pretensões de cantor e que havia desafiado um forasteiro a uma larga trova de contraponto. Vencido, seguia frequentando a venda, como se estivesse esperando alguém.A força de termos pena das dores dos heróis das novelas acabamos nos apiedando demais com nossas próprias dores. Não assim com o sofrido Recabarren, que aceitou a paralisia como antes havia aceitado o rigor e as solidões da América.

Um ponto despontou no horizonte e cresceu até ser um ginete, que vinha, ou parecia vir, até a venda. Recabarren viu o sombrero, o largo poncho escuro, o cavalo mouro, mas não a cara do homem, que por fim, diminuiu o galope e veio se aproximando troteando. Recabarren não o viu mais, mas o ouviu pigarrear, apear, atar o cavalo no palanque e entrar com passo firme na venda.

Sem tirar os olhos da guitarra, onde parecia buscar algo, o negro disse com doçura:- Já sabia, senhor, que podia contar consigo.-

O outro, com voz  áspera , respondeu:- E eu, contigo, moreno. Te fiz esperar uma porção de dias, mas aqui estou.Ouve um silêncio. Ao fim, o negro respondeu: – Estou acostumado a esperar.-Estou esperando a sete anos. O outro, explicou, sem pressa: Passei sete anos sem ver meus filhos. Os encontrei esses dias, e não quis aparecer como um homem que anda trocando punhaladas.

– O Negro disse: Espero que os tenha deixado com saúde.-Lhes dei bons conselhos, que nunca são demais, e não custam nada. Disse a eles, entre outras coisas, que o homem não deve derramar o sangue de outro homem.Um lento acorde precedeu a resposta do negro: -Fez bem. Assim não se parecerão a nós.

– Pelo menos a mim, disse o outro e concluiu como se pensasse em voz alta: O destino há querido que eu matasse e agora, outra vez, me põe o punhal na mão.O negro, como se não o ouvisse, observou: – Com o Outono se vão encurtando os dias.Com a luz que resta, me basta. Respondeu o outro, ficando em pé. Se curvou diante do negro e lhe disse com a voz cansada: – Deixa em paz a guitarra, que hoje te espera outro tipo de desafio.

Os dois se encaminharam para a porta. O Negro ao sair, murmurou: – Talvez neste me vá tão mal como no primeiro. – O outro respondeu, com seriedade: -No primeiro você não foi mal. O que passou é que andavas ansioso para chegar ao segundo.

Há uma hora da tarde em que a planície está por dizer algo; nunca o diz ou talvez o diz infinitamente e não entendemos, ou entendemos mas, é intraduzível como uma música…

De sua cama, Recabarren, viu o fim. Em uma investida o negro desfechou um golpe na cara e se inclinou em uma punhalada profunda, que penetrou o ventre. Depois veio outra e Fierro não se levantou. Imóvel, o negro parecia vigiar sua lenta agonia. Limpou a faca com sangue no pasto e voltou lentamente para a venda sem olhar para trás.

Cumprida sua tarefa de justiceiro, agora era nada. Melhor, era o outro: – Não tinha destino sobre a terra e havia matado um homem.

 (Ficções – Jorge Luis Borges)

Um dia na vida de …

Acordou, tomou dois copos d’água seguindo uma dieta receitada pela internet e foi alimentar o ZAP com uma reflexão positiva extraída do livro Um dia de cada vez, de uma destas irmandades que existem por aí, como o AA, NA (N/A) JA, DASA e etc…Como sobremesa adicionou uma mensagem motivacional de bom dia emoldurada pelo Snoopy .A seguir foi alimentar o Facebook com tirinhas extraídas de jornais e sites com personagens que aprendeu a amar pela qualidade do humor emitido.Passado o intervalo de 40 minutos tomou o café (Nescafé) que é mais prático, duas torradas recheadas com 2 fatias de queijo prato. Em seguida tomou os 2 remédios matinais e não vamos dizer aqui pra quais doenças, pra não queimar nossa foto no perfil. Pegou de novo o celular, agora para estudar 20 minutos de Espanhol .Voltou ao computador para olhar de novo o curso de Worpress somente para buscar algumas dicas de configuração para usar no site que construiu com esse poderoso construtor de Sites e Blogs. E para não se estender muito pois já sabe que ninguém tem mais saco para longos tratados metafísicos, disse: Podemos não ter as ferramentas. Podemos ter as ferramentas e não saber usá_las. Vamos pois buscar as ferramentas e aprender a usá_las!

Sobre isso

Este conceito de que temos mais do que podemos digerir pode ser aplicado muito além da relação do sultão com seu harem.A grande rede nos sufoca sem nos dar tempo de refletir, que é o que nos difere dos animais, de poder escolher e decidir não só o que é melhor para nós, tanto como indivíduos como cidadãos sociais.Somos seres insaciáveis e dai deriva todo o exercício que movimenta a roda humana em busca do Ouro, do Paraíso perdido.Tudo isso nos foi ensinado desde o berço e alguém já disse que é assim mesmo que a banda toca.Cabe a cada um agora separar dia e noite, o trigo do joio.Muito circo e pouco pão, os males do mundo são ou muita saúva e pouca saúde, que é o cenário atual desta pandemia e não adianta ficar buscando o responsável . Pragas sempre existiram e não são castigos enviados pelo céu para nos punir, e não vamos agora entrar no movediço terreno habitado pelas mais diversas seitas e religiões, umas em pequenos comitês outras em estádios, agora se fala Arenas, lotados.

Para Tania

PARA TÂNIA, MULHER COM F MAIÚSCULO DE FEMININO

       Somente agora, dezoito anos depois, relendo o livro do RILKE  (CARTAS A UM JOVEM POETA E A CANCÃO DE AMOR E DE MORTE DO PORTA ESTANDARTE CRISTOVÃO RILKE) Editora Globo, tradução de Paulo Ronai e Cecília Meireles, encontrei as  palavras para expressar e lhe dar aquilo que já é seu:  o meu amor.

       Para começar, reproduzo a dedicatória que você escreveu, então:

       É a partir do mergulho no mais profundo de nossa solidão, enfrentando o medo da descoberta, quão intensa ela pode se mostrar; é a partir da compreensão de que nossa solidão é antes de tudo e mais que tudo nossa aliada que, sempre presente, como uma artesã, envolve-nos com suas mãos e trabalha em nosso interior, acrescentando, reformulando, lapidando, esculpindo aquele que a abriga.

      É através desse encontro cara-a-cara com a maior de nossas dores, que encontramos o caminho para sair de nosso útero e emergir como filhos de nós mesmos, pais de nossa própria vida, semente de nosso fruto. Mestre-artesão e aprendiz…

Abraço e beijo você com muito carinho. Tânia. 17/03/79

Na página 59, RILKE diz: “A moça  e a mulher, em sua nova e peculiar evolução, apenas transitoriamente imitarão os hábitos e os vícios masculinos, só transitoriamente repetirão as profissões masculinas. Depois de passada a incerteza dessa transição, é que se poderá perceber que as mulheres não adotaram toda aquela multidão de disfarces (frequentemente ridículos) senão para limpar sua profunda essência das influências deformadoras do outro sexo”.

      A mulher em quem a vida habita mais direta, fértil e cheia de confiança, deve, na realidade, ter-se tornado mais amadurecida, mais humana que os homens, criaturas leves a quem o peso de um fruto carnal não fez descer sob a superfície da vida e que, vaidosos e apressados, subestimam o que pensam amar. Esta humanidade da mulher, levada a termo entre dores e humilhações há de vir à luz, uma vez despidas, nas transformações de sua situação exterior, as convenções de exclusiva feminilidade. Os homens que não a sentem vir ainda, serão por ela surpreendidos e derrotados um dia (desde já predito, sobretudo nos países nórdicos, por sinais fidedignos) ali estará a moça, ali estará a mulher cujo nome não mais significará  apenas uma oposição ao macho, nem suscitará a idéia de complemento e de limite, mas sim, a de vida, de existência: a mulher-ser-humano.

      Esse progresso há de transformar radicalmente (muito contra a vontade dos homens, de quem tomará à dianteira) a vida amorosa hoje tão cheia de erros numa relação de ser humano para ser humano, não de macho para fêmea. E esse amor mais humano (que se produzirá de maneira infinitamente atenciosa e discreta, num atar e desatar claro e correto) assemelhar-se-á àquele que nos preparamos,  lutando fatigosamente, um amor que  consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões.

Preciso dizer mais alguma coisa?- Preciso! Com certeza  a-b-s-o-l-u-t-a, você já é a mulher da metade da minha vida.

O Enrestador

Primeiro encontre um lugar confortável, se possível, com um pouco de tranquilidade, sem muitos ruídos externos! Os internos são mais difíceis de serem abafados. A prática da meditação pode ajudar muito na concentração do objetivo, traçar um roteiro, programar um horário e um tempo mínimo para a atividade. Cumprir estes quesitos chama-se: Disciplina.

Sente confortávelmente no chão, como um  enrestador   de cebolas, entre as pilhas ou molhes de cebola de um lado e os ramalhetes de junco do outro, ao alcance da mão, e comece a trançar as réstias, que logo serão empilhadas para armazenamento e posterior distribuição.

Comece a escrever. Uma palavra leva a outra, que forma uma frase, produz um sentido e, um sinal é transmitido ,e a comunicação, o contato imediato de primeiro grau é realizado.

Mensagem para…

Tudo o que vai ser tratado aqui não tem a pretensão de agradar a todos, coisa que a guerra de Tróia e todas as outras não cansam de demonstrar que é missão impossível,  até mesmo pro Tom Cruise e seu time. Muito menos a intenção de fazer uso do comando (CCC) convencer, catequizar e converter os infiéis.Claro que atrás de todo gesto humano se escondem desejos mascarados de ser o rei do baile, o líder da banda, o cara enfim.

Nunca vi nos meus avançados anos, um jogador pegar a bola na defesa e sair dribando todo o time adversário e finalizar pro gol! No campo de futsal eu vi uma vez! O que normalmente se vê e por isso é chamado de esporte coletivo, é o cara tabelar, triangular, defender e atacar, obedecendo uma tática previamente definida.

A palavra sentido por exemplo pode ter duplo significado, gerando a popular expressão : Duplo sentido. Quando dizemos: As coisas perderam o sentido queremos dizer que elas perderam o significado, o valor a validade.Mas perder os sentidos pode significar deixar de sentir qualquer um dos sextos sentidos: olhar, ouvir, tocar, provar…amar!

E aqui como Freud nunca disse é que: A porca torce o rabo, a vaca vai pro brejo e Inez é morta.O resumo da opera ou a moral da história vira sempre ao final e é o que dá uma medida de valor que poderá vir a ser adotada ou servir de fonte de inspiração para aqueles que virão mais tarde ser os protagonistas de outras histórias.

Conhecimento de embarque

A partir de hoje, tudo o que for aqui, narrado, copiado, colado e compartilhado, ao  contrário do que dizem ao final, as obras de ficção, qualquer semelhança com pessoas vivas, não será nunca, mera coincidência. A vantagem de atingir uma idade mais avançada, é que não temos mais necessidades ideológicas. As fisiológicas passam a ter prioridades. Com isso evito sem ignorar os ordinários conflitos humanos: Gregos X Troianos, Colorados X Tricolores, Democratas X Republicanos: Em verdade, em verdade, vos digo: A criação deste segundo blog, agora dentro do site “A Casa do Sol Nascente” é uma tentativa de disciplinar a minha mente, que como dito no livro “Canção para Iara” citando uma poesia de Fernando Pessoa: – “Meu coração é um pórtico partido, dando excessivamente para o mar. Em vão contemplo as velas vãs passar, e cada vela passa num sentido”.

Linkar – Verbo de ligação

Julio Cortazar, um dos meus escritores preferidos, disse que se não tivesse escrito o livro “O Jogo Da Amarelinha”no original “Rayuela”, teria se jogado no Sena, aquele arroiozinho que corta Paris.
Não posso dizer a mesma coisa, e jamais teria esta dupla  pretensão. Graças a Deus, o Sena não é o rio que corre pela minha Aldeia, e nem mesmo o Tejo, que é o rio citado pelo Fernando (Pessoa).
O Rio que corria pela minha aldeia e ainda corre é o Guaíba, e foi justamente nele que aprendi a nadar. Ademais a passagem de avião para a França está os olhos da cara e acabei escrevendo o livro “Canção para Iara”  que atingiu a façanha de ter 115 exemplares vendidos., com uma pequena ajuda da família (que é grande) e dos amigos do face, que no momento são 103.