Pitágoras

Pitágoras

Até hoje não sei se o “Pitágoras” compunha seu nome verdadeiro. Tudo o que sei e pretendo aqui narrar é que ele era professor de matemática, o que já deixa uma pista de, no mínimo, uma associação imediata com àquele, O filósofo e matemático grego autor do famoso teorema que leva seu nome. Acredito que qualquer possibilidade de filiação esteja descartada, já a questão da reencarnação, ainda não estou pronto para discutir sobre o assunto.

O fato concreto, embora ainda um pouco confuso em relação ao ano, vamos nos situar aqui entre 1965/1966, na cidade de Rio Grande, úmida e cinza como a minha depressão, que só mais tarde eu iria poder identificar, reconhecer e rotular.

Esse mesmo distanciamento crítico me permite afirmar que a mudança de volta a Rio Grande, depois de ter estabelecido laços afetivos com gente e com a cidade de Porto Alegre, não foi o detonador das minhas infelicidades. Eu já estava ruim da cabeça a ponto de abandonar o 4º ano do ginásio, que fui repetir no curso noturno na Escola Lemos Junior onde a maioria dos alunos eram filhos dos estivadores, jovens pré-adultos que não estavam “nem aí para a hora do Brasil”.

Conheci então o professor Pitágoras. Um homem magro, estatura média. Chamou-me para fazer um teste de avaliação e eu, que me gabava de ser bom em raiz quadrada e regra de três, travei completamente quando me apresentou às equações. Naquele ano a média 7 era a exigida para passar de ano.

Tinha noites em que ele entrava na sala e falava: quem quiser discutir futebol vem aqui pra frente, quem quiser dormir, pode dormir ou até mesmo ir embora. Em outras, ele dava a sua aula sem que se ouvisse uma mosca voando, tal a atenção que despertava.

Segurou a minha caderneta até o fim do ano, sem que eu soubesse a quantas andava a minha média. Na verdade eu sabia que estava abaixo de 5, de modo que fiquei para uma prova final, a qual fiz ao lado de meu irmão Zeca, que era de outra turma. Comecei a fazer a prova e, antes mesmo que eu acabasse, aproximou-se, recolheu minha prova e me entregou a caderneta com a média 7 averbada. Fez o mesmo com o meu irmão.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *