Boa Noite Dr. Freud…

Boa noite dr. Freud

Estava passando, vi a porta aberta… Posso sentar?

Sonhei que escrevi um livro. Nesse livro, cada página tinha um rosto familiar e amigo. Não é um livro grande, quero dizer, com muitas páginas, tipo romance ou dicionário. É um livro curto. Tipo de bolso. Na verdade, o que importa é o seu conteúdo, ou seja, o que ele tem dentro de si, esse espelho que permite a identificação instantânea com a forma, que alguns chamam de Literatura e outros tratam como apenas, isso mesmo: literatura.

Mas o motivo principal, que me traz aqui essa noite, não é a literatura. Nem mesmo a psicologia, em si mesma. O que me traz aqui é uma necessidade de conversar, soltar o verbo, a voz, o corpo e a culpa, que têm empurrado tanta gente pelo despenhadeiro…

Não desprezo a forte importância que a sexualidade exerce sobre a personalidade e o caráter. O senhor mesmo desenvolveu uma teoria, respeitada até hoje, sobre o assunto. Confesso que não li e não gostei. A minha mulher diz que é resistência. Eu prefiro chamar de insistência em resistir.

No momento, o que me incomoda não é tanto a ejaculação precoce, mas sim, a incontinência urinária. Não tenho medo de morrer. Morrer não dói. Conheço a morte de vista.Só não queria que fosse agora. Imagine o senhor que eu descobri que existe culpa depois da morte.Por essas e outras razões, tenho procurado e encontrado quem exorcize esses medos. São os artistas e pessoas que tenho o privilégio de conviver no meu dia a dia.

Estou convencido de que a repressão gera o ladrão, a corrupção, a prostituição em todas as suas variadas formas de expressão.Uma pessoa nasce e cresce estimulada pelo ambiente que a cerca. Quando começa a tomar o gostinho da vida, as inevitáveis perguntas aparecem: “quem sou eu? O que estou fazendo aqui?”.

Não existe uma receita comum. O que serve para mim não necessariamente pode ser apropriado para o outro. As experiências de vida são únicas e subjetivas, o que não deixa de ser um toque mágico do dedo de Deus. É bem conveniente crer que esse processo é comum a todos. A roda da vida. Mais cedo ou mais tarde, cada um tem o seu próprio tempo para experimentar aquilo que o outro passou outro dia. Parece justo.

Existem algumas palavras que são tão subjetivas que merecem uma atenção especial. A alienação, por exemplo, o que significa? Para mim, significa estar ausente (de si?), ou estar presente em si mesmo e ausente do que o circunda? Outro exemplo: um homem lê uma revista em quadrinhos, outro lê o romance mais lido de todos os tempos. É difícil medir, não lhe parece?

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