Julgamento Alheio

Hoje, depois de passar 9 horas em claro, depois de uma anestesia geral para um procedimento no Quinta Dor (falo disso em um próximo post e vocês entenderam melhor), estava seco para tomar o café da manhã, café preto e forte que chega entre cinco e seis horas da manhã.

Ainda bem que a Tânia foi dormir em casa, pois eu estava no CTI,  senão ela ia surtar com os fatos que vou descrever, na ordem a seguir.

A funcionária que trouxe o café deixou naquela mesa ajustável a cama, onde eu estava sem poder mexer muito por causa dos curativos e dos fios de monitoramento.

Veio como  em todos os dias a mesma coisa. Duas garrafas pequenas, Uma de leite e uma de café, dois mini pães integrais, duas fatias de queijo branco, uma salada de mamão, e dois tabletes, um de manteiga e outro de geleia, que nunca comi.
Servi a chícara média quase cheia, e tapei bem a garrafa. Fiz os sanduíches com o queijo, e comecei a comer e beber o café.

Estava na metade quando a personagem principal entrou no quarto. Uma enfermeira com uma máquina portátil para fazer um Eletro, que faz mais rápido que colocar os fios nos catéteres nos braços, tornozelos e peito.

Olhou pra mim e falou. Desculpe, preciso interromper seu café.
Achei um desrespeito, mas concordei. Aconteceu então o primeiro fato. Ao tentar afastar a mesa do café da lateral da cama, derrubou no chão a garrafa do café preto, que para minha sorte e dela estava fechada. Ela falou alguma coisa e colocou de novo na mesinha. Colocou os fios e quando acionou o controle remoto do eletro, não funcionava. Se dirigiu para a porta e falou com a enfermeira no balcão: – Fulana, me dá uma luz! A outra  respondeu: – tá se luz, Sicrana? – pode ser as pilhas, podem ter colocado errado. Chegou e ajudou a inverter a posição e o aparelho ligou.

Virou  e falou para eu nem respirar e imprimiu aquela primeira folha de teste. A segunda não saiu porque o rolo acabou.
Recorreu novamente a colega que conseguiu e ajudou a posicionar na máquina. Conseguiu enfim.

Virei pra ela e falei! Você tá deixando o teu plantão agora? Ela concordou e falou alguma coisa sobre estar atrasada e hoje ser feriado. Eu disse. Por isso você está agitada? Ela disse que não estava. Eu falei de novo. No meu tempo de bancário acontecia muito comigo. Impressora não funcionar, Por falta de cartucho ou rolo de papel e idem para o telex.

Ela se queixou do hospital, que está faltando gente e aquele discurso  que todo mundo que trabalhou em qualquer empresa conhece, sem falar do sufoco da condução para ir e vir.

Agradeci a ela, desejei bom feriado e boa páscoa, percebi que tinha conseguido recuar no meu julgamento alheio, coisa que ainda bem, não chego a expressar verbalmente. Uma coisa é você ler  na internet aquela mensagem:  Não julgue e trate bem as pessoas. A gente nunca sabe pelo que estão passando. A outra é quase sempre mais aplicada: – Tratar mal e nem mesmo dar ao outro tempo de dizer o que está passando.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

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