Conversa de Botequim

Todo dia era o mesmo ritual. Saia-se do trabalho, escritórios, repartições, e em nome de um Happy Hour, um momento feliz, enquanto se esperava a hora do rush passar, para se pegar um trânsito mais leve, e um lugar para sentar, no caso daqueles, que iriam encarar um ônibus, lotação ou trem, parava-se junto ao balcão de um botequim, ou em bares de céu aberto, onde a turma se reunia, no começo um ou dois colegas de trabalho, e aos poucos os companheiros de copo iam se expandindo.

Claro que havia um lugar preferido, onde  a gente conhecia o Dono, os atendentes, os garçons, e eles também nos conheciam, como velhos terapeutas de sessões diárias , que sabiam nossos segredos profissionais, conjugais, extra conjugais, confessados sem nenhum pudor, depois de algumas cervejas. O vinho fala coisas que nem as paredes confessamos.

A conversa iniciava sempre, com aquelas reclamações e fofocas do trabalho, porque o chefe é isso e aquilo, me tira o couro e não reconhece meus esforços, não me promove. E o fulano, aquele que usa uma bíblia debaixo do braço, tá pegando a fulana.

O segundo ato, o futebol, dependendo dos resultados da última rodada, era o assunto que se discutia, uns com mais paixão, outros menos fanáticos.

Entre o segundo e o terceiro ato, ou o quarto, não necessariamente nesta ordem, a gente falava de literatura, de cinema, da novela da hora, com aquele amigo que tinha o mesmo interesse.

O terceiro ato, com a temperatura do ambiente, mais elevada, depois da promessa da saideira ter sido quebrada, como uma velha e esfarrapada desculpa, entrava-se , na situação política, local nacional e internacional. Mais uma vez, a temperatura subia de novo, por conta de exaltados discursos ideológicos, Direita x Esquerda, Democratas x Republicanos, e o pessoal do centrão tentando apaziguar, agradar Gregos e Troianos.

O quarto ato, o grande final, era quando a religião entrava na roda. Ao fim e ao cabo, depois de um cardápio ecumênico ser apresentado, não lembro de nenhum deles, ir pra casa, convertido, com aquele sentimento de despertar espiritual. E no dia seguinte, o ritual se repetia.

Por: Adolfo.wyse@gmail.com







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