Arquivo da Categoria: Literatura

Datilografia

Fiz o curso de datilografia no único curso que existia em Rio Grande e que me serviu quando fiz o teste para meu primeiro emprego no Sindicato dos Estivadores de Rio Grande. A prova consistia em datilografar um texto em um determinado tempo. Com o mínimo de erros, que naquelas velhas máquinas Underwood e Remington não dava pra corrigir na hora. Digitava com os oito dedos e fui aprovado.

Depois, quando comecei a trabalhar em banco, desenvolvi uma técnica de digitar com 3 e 4 dedos, porque os números passaram a ser parte importante da pauta. Com o teclado do computador adoto a mesma técnica e no celular, no bloco de notas,  digito este texto por exemplo, usando apenas o indicador da mão direita.
Vejo jovens andando na rua, nos transportes digitando com os polegares.

Ao fim e ao cabo, o que vale mesmo, não é o tempo que você gasta para escrever, que dedos usa para digitar, e se for a mão, qual lápis ou caneta foi utilizada, e o tipo ou tamanho da fonte. O que vai pesar na avaliação do leitor, o destinatário em primeira instância de qualquer comunicação por escrito, seja memorando, carta, Livro, são as palavras escritas de maneira certa, obedecendo as boas e velhas regras gramaticais, de modo que a mensagem seja clara e legível, evitando assim qualquer chance de ser mal interpretada.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Papo de Domingo

Por mais que se ouça que Política, Religião e futebol não se discute, são os assuntos mais presentes nas rodas de amigos e de família. E a menos que você não queira ser taxado como metido a besta, antissocial e coisa e tal, participar da conversa é o mínimo que se exige deste contrato social não escrito.

Ler a crônica da Martha Medeiros hoje com o título “Esquerda Caviar” me animou a expressar o que eu penso e sinto sobre posições ideológicas. Das posições sexuais falaremos em outro momento mais oportuno, quando os maiores de 70 anos não estiverem mais na sala ou conectados em suas redes.

Desde que atingi a maioridade para votar até atingir a maturidade política, assisti a dança das cadeiras na alternância do poder, ora a direita, ora a esquerda e na maioria das vezes o centrão (soa familiar?) e não vi nenhum crescimento e progresso no chamado saneamento básico,  sem falar no básico que é, saúde e educação, e a saúde começa por uma boa alimentação que vai ajudar muito na hora de estudar.

O país é rico na produção de alimentos. Tem mão de obra barata. O que falta? Vontade política! A seguir sugestão de uma reforma política, embora a frase de Giordano Bruno caminhando para a fogueira, não saia da minha cabeça:

“Que ingenuidade, a minha. Pedir para quem tem o poder, reformar O poder”.

Segue a sugestão:

Deveria ter uma cláusula pétrea em todos os mandatos políticos, que diz: Todo político, em qualquer esfera, municipal, estadual e nacional, só terá direito a se candidatar a reeleição, se houver cumprido com seus deveres para com a sociedade, isto é, entregando o prometido na campanha. Pelo menos o essencial: Saúde, Segurança, Educação e Trabalho. Transporte público de qualidade. Uma comissão julgadora composta por membros de todos os partidos julgará imparcialmente cada candidato. As obras que foram feitas e a aplicação dos recursos públicos, o imposto nosso de cada dia. No caso de um empate técnico, uma consulta popular restrita ao Raio da esfera da candidatura, decidirá a questão.

Com isso, não sei se a democracia será aperfeiçoada, e voltará a ser o que prega a sua essência: um governo do povo para o povo. Mas pelo menos esta prática obscena
de um candidato com um mandato padrão de quatro anos, passar dois anos enrolando a massa, atribuindo ao antecessor as mazelas atuais, as obras inacabadas, e no terceiro ano já entra em campanha eleitoral pela reeleição, com o agravante de usar a máquina e
os recursos públicos a seu favor.

por: adolfo.wyse@gmail.com

Viver, Morar e Orar

A vida segue, seguiu e continuará seguindo seu curso e não há nenhum grande mistério nisso.A imagem de um rio que nasce e segue seu curso até encontrar o mar é mais popular e fácil de visualizar sem maiores especulações filosóficas ou metafísicas.
O primeiro pensamento veio durante o café e logo veio o segundo, imaginando a vida em um castelo ou em uma casa de pescador.

Lembrei então que quando compramos nosso atual apartamento, o jovem proprietário,  pai de 3 filhas, nos disse: – Fomos muito felizes aqui!

Quando eles mudaram deixaram atrás da porta principal pendurada com uma fita na dobradiça do meio, uma oração que ficou ali por 18 anos sem nos incomodar e hoje fui ler o que estava escrito (a folha estava virada e talvez por isso nunca havia lido), e lá estava uma oração chamada: –  Oração de proteção a família. Que deve ser muito conhecida pela comunidade católica e evangélica, senão pelo seu conteúdo, mas por vir assinada por um destes padres que viraram Celebridade,  com programas no rádio e na tv.

Não pensamos tão cedo em nos mudar daqui. Mas se algum dia acontecer, seja qual motivo for, e para aonde for, e a idéia de uma casa de pescador não está descartada, então eu direi ao jovem comprador:-  Fomos muito felizes aqui. E a oração ficará onde está.

por: adolfo.wyse@gmail.com

Trem das onze para Sampa

Em março de 2020 fomos para SP para visitar o Daniel irmão da Tânia e a Mariley,  minha irmã, e comemorar juntos o aniversário da Tânia. O churrasco programado pelo Daniel teve que ser cancelado por conta da COVID que chegava fechando tudo e instituindo o distanciamento social. Voltamos literalmente no último vôo para o  Rio.

Voltamos agora em Maio , dois anos depois, e o roteiro já foi completamente diferente. A começar pelo transporte. Fomos de ônibus, que as passagens aéreas estão com preços nas alturas,   e aqui vai a primeira dica que a Mariley nos deu. Uma nova empresa de ônibus oferecendo passagens baratíssimas. No começo fiquei desconfiado mas resolvemos arriscar e deu tudo certo. Acreditem. Gastamos 100 reais cada um, passagem dia e volta, ônibus semi leito, de rodoviária para rodoviária. O preço de um Uber do terminal do Tietê até a casa da Mariley. Se fosse o caso. E aqui entra o segundo bônus. Tem uma nova linha do metrô que deixa na porta da casa da Mariley. Só precisa fazer uma baldeação o que foi tranquilo.

Por causa do frio fizemos os programas durante o dia e a noite ficamos vendo séries. Fomos ao museu da língua portuguesa que foi reconstruído, ao MASP que além do acervo clássico tinha uma exposição do Volpi. Fomos a exposição de imersão do Van Gogh no shopping Morumbi que foi de estontear  e emocionante. Marcamos ponto é claro no mercadão para comer o famoso sanduíche de mortadela e pastéis. Fomos conhecer o bairro da liberdade. Jantamos um dia na casa do Daniel que nos ofereceu um churrasco no sábado. No primeiro domingo a Mariley convidou minha sobrinha Mariana com o marido Daniel e minha sobrinha neta Malu para almoçar. No segundo domingo retribuiu com um almoço ao Daniel e a Fanny.

Em 2020 um terreno em frente ao prédio (aqui eles chamam torres) estava sendo preparado para construção. Hoje estavam erguidos na fase de acabamento. 3 torres menores do que as do conjunto onde mora a Mariley.

Andamos muito de metrô e me chamou a atenção o silêncio dentro dos vagões, tirando o barulho dos ambulantes, que existem em qualquer lugar do mundo. Trabalhadores. Homens e mulheres.indo e vindo do trabalho. Cada um com seus pensamentos e preocupações com o pão de cada dia.

O melhor de tudo mesmo foi o carinho e a hospitalidade recebidos na pousada da Mariley com todo um padrão Varig de Excelência.O mesmo para o Daniel e a Fanny.

Já passou da hora de ter um trem noturno para Sampa. Trem das Onze.

por: adolfo.wyse@gmail.com

Então é Páscoa?

Quer queira, quer não, nesta data de forte narrativa religiosa, um paisano é remetido a sua infância onde as experiências vão deixar marcas, em alguns mais, outros menos, dependendo do grau de frustração ou exultação, quando da passagem do coelhinho da Páscoa.

Não vou ficar resmungando aqui que ficava na turma dos frustrados, aqueles, que por motivos que não cabem aqui, não recebiam a visita do coelhinho e no dia seguinte, ficavam  invejando o coelho maciço de chocolate que o amiguinho ganhou e exibia com ostentação.

Ontem vi na televisão um trabalho muito bonito realizado por uma Ong “Voz da Comunidade”, organizando a arrecadação e distribuição de chocolates em todas as suas formas , na comunidade do Alemão no Rio de Janeiro. E tem muitos outros por este Brasil afora, feitos por voluntários com muito amor.

E nestas horas, meus amigos, um tijolinho, um Mandolate,  uma barrinha de cereal, vale tanto ou mais, que um coelho maciço de chocolate.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Domingos de ontem e de hoje

Naqueles domingos do ano de 1962, a minha memória lembra das programações habituais, assistir um jogo de futebol no campo do Estrela,  nos fundos da nossa casa, ou no campo do Tamandaré em um terreno ao lado, onde o Milton já era destaque como goleiro. Ou jogar no campo da Figueira, aquela pelada tradicional, que acabava na hora do almoço. Algumas vezes ir tomar banho de Rio no Guaíba.


Depois do almoço, o ponto alto era o cinema, sessão das 16h, no Terezópolis, que era mais perto do que o centro. Mas se estivesse em curso o campeonato de botão, a gente ia pra casa do anfitrião, que oferecia o campo e o assunto era um só. O campeonato gaúcho. E se fosse dia de Grenal a excitação aumentava.

A programação acabava com a turma na varanda do armazém do seu Marcelino, onde os mais velhos e os mais novos fumavam Hollywood, Minister, Mistura Fina,  e bebiam refrigerantes. A televisão estava começando a aparecer, mas nem todos tinham, e o rádio era o veículo da hora. As resenhas do futebol se estendiam até a noite, do futebol regional até o nacional quando foi instituído o torneio Roberto Gomes Pedrosa, depois Taca de Prata, depois Brasileirão.

Hoje o cardápio é tão variado que não dá pra um paisano digerir tudo ao mesmo tempo. Tem liga inglesa, liga espanhola, italiana, francesa, cinema no streaming que fica difícil de escolher, tem NBA com os últimos jogos da temporada regular, e a primeira rodada do Brasileirão. O Inter estréia contra o Atlético Mineiro, campeão do ano passado, e em verdade vos digo, sinto falta mesmo é do meu time de botão, que ficou para trás em uma daquelas mudanças entre Porto Alegre e Rio Grande.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Búzios revisitado #sempreteremosbúzios

Em 1985, possivelmente em Abril, mês em que casamos, no dia 10 no cartório e no dia 15 na Sinagoga da ARI em Botafogo, fomos,  eu e  Tânia pela primeira vez a Búzios em uma viajem romântica a sós, a Júlia tinha dois anos e ficou com os avós.

Acho que a internet ainda não havia nascido e fomos através de algum anúncio de revista ou jornal, para a Pousada dos Gravatáz, que ainda existe, reformada é claro, e que oferecia meia pensão, café mais almoço ou jantar, ao gosto do hóspede. O diferencial era um deck
que dava na areia da praia de Geribá, uma das mais badaladas hoje em dia.

Depois disso voltamos várias vezes,  mas sempre com a família ou amigos juntos, e  preferimos alugar a casa de uma amiga em um condomínio muito aconchegante, ( a casa e o condomínio) quase no arco de entrada da cidade, com acesso a 100 metros para a praia de manguinhos, ótima para caminhadas.

Domingo dia 20 fomos de ônibus para celebrar o aniversário da Tânia dia 21. Escolhemos a pousada Bucaneiro, com ótima localização, a 10 minutos da Orla Bardot e Rua das pedras. O Coração de Búzios.
Para quem não tem carro, no nosso caso, tem Uber que te leva pra praia que você quiser. Segunda choveu muito de manhã até a tarde, e não deu praia. Mas batemos bastante perna, o que gostamos de fazer em viagem.
Búzios assim como alguns lugares tem um borogodó que encanta todo mundo.


Este povo do Rio de Janeiro é abusado e deve ser por isso: tem região dos lagos e região serrana, a duas, três horas de distância.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Quando não vale o escrito

Antigamente a palavra de um homem tinha valor. O valor da honra perdida quando a palavra não era cumprida. Este código de conduta foi se perdendo ao longo deste tempo, muito por conta das migrações sociais, da globalização dos costumes e comportamentos,
que nivelou todo mundo na vala comum, do “tamo junto e misturado”, em português antigo, tudo farinha do mesmo saco.

Em nome de um bem estar social nasceu a necessidade de se criar Leis e,  assim foram criadas as constituições, a declaração universal dos direitos humanos, os estatutos das crianças e adolescentes, que são, como sabemos, desrespeitados a luz do dia, diariamente, entupindo o sistema judiciário de demandas, criando uma indústria jurídica de apelações , de instância em instância, até os tribunais superiores, sobrecarregados também pelos recursos de apelação.

Assim chegamos aonde estamos em um mundo onde as nações unidas (ONU) não passa de uma sigla sem poder nenhum, onde muito se discursa, e pouco se decide.
E para fazer uma analogia com as terríveis imagens diárias das guerras, qualquer um a qualquer momento, pode invadir o terreno vizinho, fazer um puxadinho, seja
por qual motivo for, no caso das terras indígenas (demarcadas oficialmente) para a pura e simples exploração mineral.

É assustador sentir que a manutenção da paz mundial depende da igualdade do poder militar, leia-se, mísseis e ogivas nucleares, entre as duas ou mais, maiores potências.
A única coisa que está ao nosso alcance entender, é que este perverso jogo de poder, com toda sua carga de destruição, não é um Jogo de vídeo game.

Por: adolfo.wyse@gmail.com


Variações sobre o mesmo tema

Há tempos a sabedoria popular  diz,  que de médicos e de loucos todos nós temos um pouco. Traduzindo de um modo literário quer dizer que o Dr. Jekill e Mr. Hide
que habita em você habita em mim e vice versa, como diria o Dadá maravilha, o centroavante preferido do Gal. Médici, o que cientificamente pode ser provado, testado e comprovado pelo uso diário das pilhas Rayovac, com seus polos positivos e negativos , facilmente  identificados pelos sinais de + e -, o que configura um estado bipolar natural.

Este toque de humor é apenas uma maneira de atenuar a seriedade do tema, que afeta 100 por cento da  população ativa do planeta, isto é, aquela que ainda está de pé, respirando, que acredita que o corpo e a alma são como a corda e a caçamba, e são carentes sim,
de serem alimentados diariamente, e dessa premissa básica derivam todas as narrativas, diriam todos os filósofos de plantão, nem todos discípulos de Platão ou de Aristóteles, alguns fanáticos seguidores de Sócrates, um dos pioneiros em terceirizar e personalizar os serviços:  – “Conhece te a ti mesmo!”

A parábola do semeador, uma das melhores metáforas sobre plantar e colher, e que todo mundo deveria ter colada na porta da geladeira, o lugar mais  à vista da casa, independente da crença de cada um, explica didaticamente o processo. Mas na hora de botar a mão na massa, preparar o terreno para o plantio, capinando, capinando, que as ervas daninhas crescem mais que chuchu na serra., toda a teoria cai por terra
e nossa sorte volta a seu destino de origem, ou seja, sujeita as mesmas condições de tempo, ora uma seca aqui, ora uma enchente ali.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

O tubarão e os peixes pequenos

Este é o título de um filme que eu vi quando era adolescente e narrava a história de um submarino e sua tripulação.

Hoje o mar não está para peixe! –  Quer dizer que não adianta colocar o barco na água, e jogar a rede, pois é como se os peixes, todos eles, de todas as categorias tivessem feito um pacto, uma trégua de não agressão, e se recolhido, cada um a sua toca, seu bunker, até o mar se acalmar.

Toda essa conversa fiada de marinheiro e pescador, para chegar ao livro “O velho e o mar” de Ernest Hemingway, quando o velho pescador, Santiago, após 84 dias voltando com as mãos vazias, sendo alvo da zombaria dos outros pescadores, saiu para pescar o maior peixe já visto naquela comunidade, e apesar de chegar apenas com a carcaça amarrada ao barco-resultado de um ataque coletivo de tubarões- cumpriu a sua jornada, deixando um legado de humildade:

“Um homem pode ser morto, mas não pode ser derrotado.”

Por: adolfo.wyse@gmail.com