Enquanto a areia que escorre na ampulheta, dá a medida exata do tempo corrido e a correr, para cada um, como um relógio biológico, nenhum de nós tem a capacidade de prever quando o último grão se juntará ao montinho no fundo da ampulheta.
Ainda bem que é assim. Senão todos morreriam de ansiedade com os olhos vidrados no instrumento.
Não é um assunto que um paisano fica pensando muito a respeito. Na maioria das vezes o pensamento fica reduzido ao ontem, o hoje e o amanhã, que é o suficiente para lidar com as necessidades diárias.
Alguns brilhantes filósofos e pensadores se debruçaram e estudaram o assunto com mais profundidade.
Tenho uma noção adquirida de que o tempo é um só. E encontrei nos versos do Martim Fierro, a resposta que confirma este entendimento. No desafio com o Moreno ele pede para Fierro explicar o que é a quantidade, a medida, o peso e o tempo. Fierro responde assim:
“Moreno, vou a decir,
Sigun mi saber alcanza:
El tempo solo és tardanza
De lo que está por venir.
No tuvo nunca princípio
Ni jamais acabará,
Porque el tiempo és una Rueda
y Rueda és eternidá;
Y si el hombre lo divide
Solo lo hace, em mi sentir,
Por saber lo que há vivido
O le resta que vivir.”