Arquivo da Categoria: Literatura

O homem que amava os quadrinhos, as tirinhas, os quadradinhos.

No livro “Cadernos de Lanzarote” – Vol. II – Pag. 302/303, José Saramago revela que gosta de quadradinhos, como ele fala:

“Confesso que gosto de muitos destes bonecos, do Calvin & Harold, do Snoopy, do Garfield, daquela Mafalda sábia e subversiva de quem continuo a ser discípulo fiel.
Em geral, havendo por perto testemunhas, tenho a fraqueza de olhar para eles meio disfarçadamente, com medo de que se pense que o autor da “História do cerco de Lisboa”, afinal de contas, não é este, mas outro…”

E ao encontrar uma tirinha do Caco Galhardo no jornal Folha de São Paulo, onde ele é citado, finaliza: ” Pensei então, deliciado: Eis-me personagem do mundo dos quadradinhos, eis-me,  enfim, imortal. A partir de hoje. Tenho um lugar garantido no Panteão…E. claro,  ali mesmo jurei que nunca mais voltaria a esconder-me para saborear os cinismos implacáveis do Garfield e fingir indignações contra ele.”

Eu sempre fui apaixonado. Até porque a minha iniciação literária se deu lendo Gibis. Se eu puxar um álbum do Facebook com todas as minhas publicações, vocês vão ver, que noventa por cento, é de tirinhas, do Hagar, Mafalda, Snoopy e a turma do Charlie Brown, Zé do Boné, O Mago de Id, B.C.  Garfield e as tirinhas que eu capturava dos jornais.

Nos anos 70 tinha as Revistas A Patota e a Grilo, que traziam os melhores quadrinhos e cartunistas do mundo. Eu tinha toda a coleção completa.

A grande revelação do ano que estou curtindo muito é as tiras diárias de Pickles Comics de Brian Crane cfe. Acima.

Por: adolfo.wyse@gmail.com.br

The Fab Four -The Beatles

Hoje o Maraca vai bombar e não tem jogo do Flamengo nem nada. Mas vai ter show do Paul MacCartney, dizem que o último dele aqui no Brasil, que depois vai dar entrada como todo bom cidadão no pedido de aposentadoria, que em inglês significa retirado da vida pública.

Corre a boca solta nas redes que o Ringo vai dar uma palhinha e que o Mick Jagger pode dar uma de penetra, já que está no Brasil, veio visitar o filho e dar uma bimbada na ex. , essas recaídas muito comum hoje em dia, entre casais que se separaram mas mantém o mesmo vínculo vitalício, o cordão umbilical da pensão alimentícia.

Os mais fanáticos mesmo, acreditam piamente que o John e o George vão estar ali nos bastidores, e apenas seus perfis serão projetados no telão, o que nos leva apenas a reforçar aquela outra lenda urbana de que Elvis não morreu.

Já me falaram que eu tenho a cara do George, e alguns mesmo dizem que eu pareço com o Paul. Ninguém disse que eu pareço com o John, que é o meu preferido, a partir da sua carteira solo, quando lançou Stand By Me, Imagine e outras.
Quero dizer que o quarteto era poderoso, e mereceram o título de: Os  4 Fabulosos

Abaixo uma playlist com as minhas preferidas . Podem compartilhar a vontade!.

Um ótimo show para todos.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Antes de Partir – 73ª Edição

Já disse antes por escrito, no livro “Canção para Iara”, que um dia, depois de aprender a cantar e tocar, no violão as músicas “Diz que eu fui por aí”, do Zé Keti e “Palpite Infeliz”, do Noel Rosa, vou requerer na assembleia legislativa estadual, o meu diploma de cidadão honorário do Rio de Janeiro, o título de carioca, para ostentar na parede da sala.

Esta noite, de uma insônia ativada por um texto que li na rede, falando sobre Noel Rosa, que fez aniversário dia 10, entendi que o título que vale mesmo é aquele reconhecido pelo povão, que mora nas comunidades,  Hoje não se pode falar morro ou favela.

Não falo de ir nas quadras sociais onde se dão os ensaios de carnaval, com as escolas cantando e dançando, no gogó e no pé, os sambas enredos que vão disputar no Sambódromo, o título de campeã.

Falo de sair por aí, com o violão debaixo do braço, e fazer o que o Noel fazia.  Subia a Mangueira para tomar a saideira com o Cartola, e de bônus tomava a canja da Dona Zica.
Para completar o cinturão do samba, sem precisar sair da Tijuca, subir o Salgueiro e esticar a noite em Vila Isabel. Chegar na Portela já vai exigir, um transporte, ônibus, trem ou metrô ,
que tenha ponto, estação, em Madureira. A Estácio de Sá é aqui do lado.

Como o Cartola já desencantou, me resta enviar um convite para o Martinho da Vila e Paulinho da Viola, para pelo menos darem uma carta de recomendação e uma de navegação, para que eu não me perca no caminho e seja confundido como policial, ou seja assaltado por conta desta cara de turista branco rico.

Como sempre digo, a teoria na prática é sempre outra. Assim, o primeiro item da lista a ser realizado já foi lançado. Agora é Comprar um violão e aprender.O segundo item, já está quase pronto para entrar e sair do forno, o Livro O Correio da Tijuca, no formato físico e digital. Ainda estou avaliando o custo e benefício das duas plataformas que recebi ofertas. Em breve em uma banca perto de você ou a distância de dois cliques, no conforto do seu lar.

Por: adolfo.wyse@gmail.com



Livros de Bolso

Ainda vejo no metrô, com alegria, pessoas lendo livros , de todos os tamanhos. Em tempos de abdução coletiva, por smartphone, é uma grata exceção a regra.

A invenção do livro de bolso, coisa que parece foi inventada nos EUA, não tenho certeza, foi exportada para o mundo. Conheci edições espanholas, de boa qualidade e aqui no Brasil, a LPM parece ser a campeã de audiência. Em qualquer livraria que se entra tem um daqueles stands giratórios, com um cardápio para todos os gostos.

O diferencial, que fez todo a diferença, foi o preço e a mobilidade. O livro é um artigo muito caro. Quase um luxo para a classe trabalhadora. A mobilidade permite,  se ler, no transporte público, sem ter que carregar o peso daqueles tijolos, que um livro, normalmente romances, com mais de 300 páginas, pesam.

Aquela cena de ver estudantes carregando na mão, (ainda não tinham inventado, as mochilas atuais), dicionários, livros de direito, de história e de medicina, não existe mais.Para conforto de todos, inventaram o leitor digital, que permite carregar uma biblioteca de Babel. E os dicionários saíram de moda. Assim como os catálogos de telefone. Páginas amarelas, lembram?

Hoje, o grande oráculo, o Google, responde a qualquer consulta, traduzindo para qualquer língua, as respostas.

Hoje, vendo e ouvindo, as pessoas falando das vantagens e desvantagens, da tecnologia, se estamos evoluindo ou involuindo, de alguns lugares, ainda estarem na idade da pedra, acredito que o sonho realizado por Gutemberg, não tem mais volta. Os livros não vão desaparecer.

Porque existe uma magia maior, que envolve o homem e o seu meio. A comunicação e troca da memória humana, contada e cantada em prosa e verso, desde os registros mais antigos.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

No caso de …

No caso de o acaso aparecer sem hora marcada, ou antes, o que dá no mesmo, é bom estar prevenido, como aqueles que cresceram ouvindo e praticando, aquela mensagem de que um homem prevenido vale por dois.
Não era o meu caso, até agora, e aqui, a fábula da cigarra e da formiga, pode nos ajudar, a ilustrar o assunto. Sempre encontrei no canto da cigarra acalanto e força para aguentar o tranco diário, a luta pela sobrevivência, mas nunca tive,  como as formigas aquela disciplina e visão de fazer provisões para o inverno, quando as fontes de alimentos, ficam mais escassas, e o “farinha pouca, meu pirão primeiro”, mostra a sua face e o bem estar comum do formigueiro, fica em segundo lugar.

No fundo, no fundo. Sempre invejei a vida da cigarra, aquela vida de cigana, andando prá lá e pra cá, sem hora pra acordar, sem ter que bater cartão de ponto, sem meta pra atingir, uma vida descolada, sem medo de dever obediência a qualquer autoridade, como devem as formigas, à rainha.

E na hora do ressentimento, ela, a cigarra, recebia as ofensas mais cruéis, sendo a mais leve, ser taxada de vagabunda.
Na fábula, a sabedoria da rainha, acalma a revolta, dizendo que o canto dela, alegrava a nossa lida, e nada mais justo, que no inverno, ela tenha direito a um abrigo  e  comida, já que nunca cobrou cachê pelos seus shows!

Não acredito em superstição, mas que elas existem, existem. E temos exemplos diários, no futebol, na virada do ano, aquela roupa que dá sorte.

Mas voltando ao tema inicial, podemos adotar duas posturas antes do inesperado bater a nossa porta. E aqui vale para os supersticiosos como para os pragmáticos.

A primeira,  pouco adotada pelos supersticiosos é aquela de deixar um testamento registrado em cartório, destinando os bens materiais, fazer a partilha, a divisão de bens, para o cônjuge e filhos, ou deixar em um cofre ou caixa de correio, o seu último desejo, se quer ser cremado ou onde quer ser enterrado, junto com um caderninho onde estão os dados importantes, para movimentação das contas bancárias, senhas e quais boletos estão em aberto.

Digo pouco adotada porque parece trazer má sorte, mal agouro.

A segunda, adotada pelos pragmáticos, mas evitando atrair a má sorte, é deixar em um lugar seguro, que possa ser facilmente encontrado, instruções escritas ou por vídeo, para o caso de a gente sair pra comprar cigarros e não voltar, o que nem sempre significa o fim, mas um desejo concreto de sumir do mapa, fugir da vida, que se apresenta mais dura do que podemos suportar.

Nos filmes americanos é muito comum a gente ver, um personagem deixando uma gravação de vídeo, com a expressa condição de só ser visto após a passagem desta pra melhor, que inicia sempre assim:  – Se vocês estão vendo este vídeo é porque …

Em todos os casos, vamos passar por isso, as pessoas morrem porque estão vivas. E ninguém aqui é bruxo pra escapar. E o ritual de despedida será sempre doloroso, para os que ficam enlutados, e sempre achei muito mórbido essa coisa do luto, em alguns casos durava 1 ano, com as mulheres obrigadas a usarem preto e vez e outra acontecia, quando estava no 11º mês, morria outro membro da família, no tempo em que as famílias eram grandes.

Afirmei no meu livro Canção para Iara, com muita convicção, que morrer não dói. Qualquer um, com o mínimo de consciência pode provar que é fake news, essa palavra tão em moda, afinal, não morri para saber.

E antes que a minha querida família comece a se preocupar com meu estado de saúde, após duas internações este ano, sejam felizes e não se preocupem. Ninguém morre um dia antes ou depois, daquele marcado no livro da vida.

Meu último desejo então, é que seja por susto, bala ou vício. Nos braços de uma mulher, como diz a canção.

Por: adolfo.wyse@gmail.com


 

Então é Natal!

Embora a noite especial seja dia 24, a cidade começa a se enfeitar com as luzes de pisca – pisca, nas fachadas das casas, em volta das árvores nas ruas, antes mesmo de chegar Dezembro.

Os shoppings então capricham na decoração, em uma competição, para atrair, seduzir e capturar, aquele cliente que, seja cristão ou não, necessita comprar aquele presente, para o amigo oculto da firma, da família, enfim, está aberta a temporada de caça.

Começam a aparecer, nas redes sociais, principalmente, as indefectíveis mensagens de Feliz Natal, de Paz na terra entre os homens de boa vontade ( e os de má vontade também) e já incluindo o Feliz ano novo
.

A turma da má vontade, é conhecida por aquele discurso já manjado, de que o espírito da festa foi corrompido, porque em vez de se lembrar do nascimento daquele menino Jesus , pegaram a imagem dos três reis magos, com seus presentes na mão, para converter a data, no maior evento de consumo no mundo , o que nos leva a entender melhor, o capricho dos shoppings na decoração e nas promoções.

Mas nem tudo está perdido, o espírito da festa ainda vigora, com campanhas de solidariedade, que levam aos menos favorecidos, a esperança de um mundo melhor, sem tantas desigualdades, essas barreiras que segregam as periferias dos grandes centros urbanos.

A que mais me comove, é a do “Natal sem Fome”, criada pelo Betinho, irmão do Henfil, criador dos Fradinhos, do Zeferino, Bode Orelana e Graúna, que esta geração dos anos 90 não conheceu e nunca ouviu falar, se não teve na família alguém que viveu os anos 70.

Mais do que nunca, o que vale mais aqui, não é o valor do presente, nem da doação, mas o gesto que simboliza o presente para o menino.

Somos todos reis magos nesta noite.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Conversa de Botequim

Todo dia era o mesmo ritual. Saia-se do trabalho, escritórios, repartições, e em nome de um Happy Hour, um momento feliz, enquanto se esperava a hora do rush passar, para se pegar um trânsito mais leve, e um lugar para sentar, no caso daqueles, que iriam encarar um ônibus, lotação ou trem, parava-se junto ao balcão de um botequim, ou em bares de céu aberto, onde a turma se reunia, no começo um ou dois colegas de trabalho, e aos poucos os companheiros de copo iam se expandindo.

Claro que havia um lugar preferido, onde  a gente conhecia o Dono, os atendentes, os garçons, e eles também nos conheciam, como velhos terapeutas de sessões diárias , que sabiam nossos segredos profissionais, conjugais, extra conjugais, confessados sem nenhum pudor, depois de algumas cervejas. O vinho fala coisas que nem as paredes confessamos.

A conversa iniciava sempre, com aquelas reclamações e fofocas do trabalho, porque o chefe é isso e aquilo, me tira o couro e não reconhece meus esforços, não me promove. E o fulano, aquele que usa uma bíblia debaixo do braço, tá pegando a fulana.

O segundo ato, o futebol, dependendo dos resultados da última rodada, era o assunto que se discutia, uns com mais paixão, outros menos fanáticos.

Entre o segundo e o terceiro ato, ou o quarto, não necessariamente nesta ordem, a gente falava de literatura, de cinema, da novela da hora, com aquele amigo que tinha o mesmo interesse.

O terceiro ato, com a temperatura do ambiente, mais elevada, depois da promessa da saideira ter sido quebrada, como uma velha e esfarrapada desculpa, entrava-se , na situação política, local nacional e internacional. Mais uma vez, a temperatura subia de novo, por conta de exaltados discursos ideológicos, Direita x Esquerda, Democratas x Republicanos, e o pessoal do centrão tentando apaziguar, agradar Gregos e Troianos.

O quarto ato, o grande final, era quando a religião entrava na roda. Ao fim e ao cabo, depois de um cardápio ecumênico ser apresentado, não lembro de nenhum deles, ir pra casa, convertido, com aquele sentimento de despertar espiritual. E no dia seguinte, o ritual se repetia.

Por: Adolfo.wyse@gmail.com







Copo meio cheio, meio vazio

Esta expressão popular, muito usada pelos  terapeutas e outros motivadores de plantão, nos diz, que a maneira como vemos o copo, define nossa postura diante da vida, positiva ou negativa, otimista ou pessimista.

Sobre isso, me considero autoridade no assunto, uma vez que durante anos, pratiquei esse exercício de encher e esvaziar o copo, em botequins das mais variadas famas, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.

A lição aprendida, e demorei a entender, é que por mais que enchesse a cara de cerveja e alguns destilados ocasionais, em churrascos, caipirinha , em festas, vinho ou uísque, o copo estava sempre vazio.

E aqui chegamos a conclusão final de que o buraco é mais embaixo, que este vazio que tanto se fala, é de outra natureza, e não pode ser preenchido, com qualquer uma compulsão, seja álcool, drogas (legais e ilegais) e outras mais.

A natureza dessas compulsões, é 99% das vezes , por carência emocional, mas antes disso, a nascente tem origem espiritual, tanto é assim, que pode ser demonstrado, quando um homem ou mulher, que se encontra no fundo do poço, no papelão, recebe ou encontra um guia, que não tem asas de anjo, um homem ou mulher, igual a nós, que nos indica a porta para a libertação.

Encontrei a minha, em um destes grupos anônimos, onde o AA, é o mais conhecido e que os outros reconhecem como irmandade mãe, que adota a filosofia dos 12 passos, onde milhões de pessoas encontram a sua resposta, e aí sim, passam a ver o copo com olhos mais positivos.

Por: adolfo.wyse@gmail.com

Criar e Contar

Quando não temos ainda o domínio de como tecer, desenhar, pintar, esculpir, filmar e escrever, iniciamos na maioria das vezes, inspirados por um modelo já adotado. No caso dos que já tem,  a técnica aprendida ou talento de nascença, concedido sabe-se lá, por qual meio, para merecer a benesse dos deuses, uma idéia basta, e o quadro se apresenta diante dos olhos do artista, com moldura e tudo.

No caso da escrita, existe uma diferença notável entre criar e contar uma história. Para criar, o autor precisa construir um ambiente, um cenário, criar personagens que vão entrando em cena, por ordem de aparição ou importância do papel, definir  o ator principal que reúne em volta os coadjuvantes, os figurantes.

Criar a ação da trama, traçar o roteiro do enredo, que só ao fim e ao cabo, no caso dos filmes, o The End, nos entregar uma história muito perto da verdade, que é a vida que corre aqui fora, que chamamos realidade.

Para contar a tarefa parece mais fácil mas exige algumas habilidades.
Até para ler um livro, mesmo aqueles Infantis, (E felizes os adultos hoje,  que tiveram na infância alguém para ler antes de dormir, os contos de fada ou fábulas), é preciso ler o personagem, e dar entonação a sua voz.

Era uma vez… e a imaginação monta nas asas de Pegasus, ou entra em um balão que dá a volta ao mundo em oitenta dias, ou embarca em um submarino que percorre vinte mil léguas submarinas, como nos contou Julio Verne.

As viagens espaciais seriam incorporadas após as primeiras viagens a lua, embora alguns segredos de estado, guardados a 7 chaves, revelados por  insistência de uns bravos e curiosos cientistas taxados de lunáticos, demonstrem que já recebemos a visita de ETs, em seus discos voadores.

Os grandes autores, desde os antigos, os grandes mestres reconhecidos como gênios, pelas obras legadas, souberam criar e contar, como ninguém, para sorte de todos aqueles que amam a literatura, e que podem acessar esses tesouros universais.

Por:adolfo.wyse@gmail.com

Santiago saiu para pescar

Pensei agora que nossos sentidos são as portas e janelas que permitem o acesso a nossa alma, essa coisa que sentimos possuir, nos habita, e não sabemos onde se localiza, se na mente,  no coração, no corpo todo.
O pensamento surgiu após eu pensar (E é sempre assim, como as ondas, vem uma e mal se esparrama em espuma na praia, vem outra),  que os artistas, os escritores em especial são tradutores dos sentimentos que nós, seres humanos não conseguimos expressar, dando os nomes, de onde vem, como agem e afetam nossas células, nosso ser e comportamento social, quando diante do outro, o estranho, o diferente, e não precisamos entrar aqui na descrição dos segregados.

Eles nos libertam das correntes que nos condenaram  a acreditar em dogmas, sob a força da repressão, muitas vezes vestida com o manto da religião, o velho conto do bem e do mal, crime e castigo.

Não gosto de usar textos alheios . Parece que estou querendo surfar na onda deles, ou então passar uma imagem, de homem lido e letrado, mas se vocês não sabem, posso dizer,  sem medo de errar, que entre ler e aprender, existe uma ponte (chamada realidade) que precisamos atravessar, e colocar em prática o amor, a solidariedade, a  compaixão, a humildade, que é essencialmente saber que não somos maiores nem melhores, do que os outros.

No momento estou na ponte, e sempre que me sinto ,meio assim, meio assado, indeciso, encontro um artista que me devolve a confiança para continuar a travessia, como segue:

Sylvia Plath |  A redoma de vidro


“O problema é que eu sempre fui inepto, só não tinha parado para pensar nisso. A única coisa em que eu era bom era conseguir bolsas e prêmios, e esse tempo estava chegando ao fim.

Eu me senti como um cavalo de corrida em um mundo sem pistas de corrida, ou um campeão de futebol universitário de repente se levantando para Wall Street com  um terno de negócios, vendo seus dias de glória reduzidos a uma coisinha de ouro sobre a lareira, com uma data gravada como a data em um lápide.

Eu vi a vida se ramificando diante de mim como a figueira verde da história.

Da ponta de cada galho, como um suculento figo roxo, um futuro maravilhoso acenava e me tentava.  Um figo era um marido e um lar feliz e filhos, e outro figo era um poeta famoso, e outro figo era um professor brilhante, e outro figo era E.G., o fantástico editor, e outro figo era a Europa, a África e a América do Sul, e outro figo estava lá era Constantin e Sócrates e Átila e um bando de outros amantes com nomes engraçados e profissões bizarras, e outro figo era um campeão olímpico de remo, e além e acima daqueles figos havia tantos outros que ele não conseguia distinguir.

Eu me vi sentado na virilha daquela figueira, morrendo de fome só porque não conseguia decidir qual figo eu queria.  Eu queria todos, mas escolher um significava perder os outros, e enquanto eu estava sentado lá, incapaz de me decidir, os figos começaram a enrugar e escurecer, e um a um eles caíram no chão aos meus pés.”

Por: adolfo.wyse@gmail.com