Maiakovski

 A BLUSA AMARELA

 

Do veludo de minha voz

Umas calças pretas mandarei fazer.

Farei uma blusa amarela De três metros de entardecer.

E numa Nevski mundial com passo pachola

Todo dia irei flanar qual D.Juan frajola.

Deixai a terra gritar amolengada de sono:

“Vais violar as primaveras verdejantes!”

Rio-me, petulante, e desafio o sol!

“Gosto de me pavonear pelo asfalto brilhante!”

Talvez seja porque o céu está tão celestial!

E a terra engalanada tornou-se minha amante

Que lhes ofereço versos alegres como um carnaval

Agudos e necessários como um estilete pros dentes.

Mulheres que amais minha carcaça gigante

E tu, que fraternalmente me olhas, donzela.

Atirai vossos sorrisos ao poeta

Que, como flores, eu os coserei À minha blusa amarela!

 

 

E então, que quereis?
 

Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades.

Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?

O mar da história é agitado.

As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.

 


 

Fragmentos – 2
 

Passa da uma  você deve estar na cama

Você talvez sinta o mesmo no seu quarto Não tenho pressa

Para que acordar-te com o relâmpago de mais um telegrama.

 

Fragmentos – 3
 

O mar se vai o mar de sono se esvai

Como se diz: o caso está enterrado

a canoa do amor se quebrou no quotidiano

Estamos quites

Inútil o apanhado da mútua dor mútua quota de dano.