As pessoas têm sido inexplicavelmente boas comigo. Não tenho inimigos, e se certas pessoas vestiram esse disfarce, foram tão gentis que nem sequer me machucaram. Cada vez que leio algo que foi escrito contra mim, não apenas compartilho do sentimento, mas penso que eu mesmo poderia fazer o trabalho muito melhor. Talvez eu deva aconselhar os possíveis odiadores a me enviarem suas críticas com antecedência, com a certeza de que receberão minha total ajuda e apoio. Até desejei secretamente escrever, sob um pseudônimo, uma longa invectiva contra mim mesmo. Oh, as duras verdades que guardo!
Na minha idade deve-se ter consciência dos próprios limites e esse conhecimento pode contribuir para a felicidade. Quando eu era jovem, pensava que a literatura era um jogo de variações hábeis e surpreendentes. Agora que encontrei a minha própria voz, penso que corrigir e voltar a corrigir os meus originais não os torna melhores nem piores.
Acho que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma certa satisfação e tranquilidade. No entanto, acho que não escrevi tudo. De certa forma, a juventude parece mais próxima de mim do que quando eu era jovem. Não considero mais a felicidade inatingível como fazia há muito tempo. Agora eu sei que isso pode acontecer a qualquer momento, mas você nunca precisa procurar por isso. Quanto ao fracasso e à fama, parecem-me irrelevantes e não me importo. O que quero agora é a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E embora possa parecer ambicioso demais, o sentimento de amar e ser amado.
JORGE LUIS BORGES.
AUTOBIOGRAFIA.
EL ATENEO, Buenos Aires, 1999.
O Fim
Recabarren , estendido na cama, entreabriu os olhos e viu o céu azul refletido no teto do quarto.
Da outra peça chegava um acorde de guitarra. O executor era um negro que havia aparecido uma noite com pretensões de cantor e que havia desafiado um forasteiro a uma larga trova de contraponto. Vencido, seguia frequentando a venda, como se estivesse esperando alguém.
A força de termos pena das dores dos heróis das novelas acabamos nos apiedando demais com nossas próprias dores. Não assim com o sofrido Recabarren, que aceitou a paralisia como antes havia aceitado o rigor e as solidões da América.
Um ponto se despontou no horizonte e cresceu até ser um ginete, que vinha, ou parecia vir, até a venda. Recabarren viu o sombrero, o largo poncho escuro, o cavalo mouro, mas não a cara do homem, que por fim, diminuiu o galope e veio se aproximando troteando. Recabarren não o viu mais, mas o ouviu pigarrear, apear, atar o cavalo no palanque e entrar com passo firme na venda.
Sem tirar os olhos da guitarra, onde parecia buscar algo, o negro disse com doçura:
– Já sabia, senhor, que podia contar consigo.
– O outro, com voz áspera , respondeu:
– E eu, contigo, moreno. Te fiz esperar uma porção de dias, mas aqui estou.
Ouve um silêncio. Ao fim, o negro respondeu: – Estou acostumado a esperar.
-Estou esperando a sete anos. O outro, explicou, sem pressa: Passei sete anos sem ver meus filhos. Os encontrei esses dias, e não quis aparecer como um homem que anda trocando punhaladas.
– O Negro disse: Espero que os tenha deixado com saúde.
-Lhes dei bons conselhos, que nunca são demais, e não custam nada. Disse a eles, entre outras coisas, que o homem não deve derramar o sangue de outro homem.
Um lento acorde precedeu a resposta do negro: -Fez bem. Assim não se parecerão a nós. – Pelo menos a mim, disse o outro e concluiu como se pensasse em voz alta: O destino há querido que eu matasse e agora, outra vez, me põe o punhal na mão.
O negro, como se não o ouvisse, observou: – Com o Outono se vão encurtando os dias.
-Com a luz que resta, me basta. Respondeu o outro, ficando em pé. Se curvou diante do negro e lhe disse com a voz cansada: – Deixa em paz a guitarra, que hoje te espera outro tipo de desafio.
Os dois se encaminharam para a porta. O Negro ao sair, murmurou: – Talvez neste me vá tão mal como no primeiro. – O outro respondeu, com seriedade: -No primeiro você não foi mal. O que passou é que andavas ansioso para chegar ao segundo.
Há uma hora da tarde em que a planície está por dizer algo; nunca o diz ou talvez o diz infinitamente e não entendemos, ou entendemos mas, é intraduzível como uma música…
De sua cama, Recabarren, viu o fim. Em uma investida o negro desfechou um golpe na cara e se inclinou em uma punhalada profunda, que penetrou o ventre. Depois veio outra e Fierro não se levantou. Imóvel, o negro parecia vigiar sua lenta agonia. Limpou a faca com sangue no pasto e voltou lentamente para a venda sem olhar para trás.
Cumprida sua tarefa de justiceiro, agora era nada. Melhor, era o outro: – Não tinha destino sobre a terra e havia matado um homem.
(Ficções – Jorge Luis Borges)
“Una oración” de Jorge Luis Borges
“Mi boca ha pronunciado y pronunciará, miles de veces y en los dos idiomas que me son íntimos, el padre nuestro, pero sólo en parte lo entiendo. Esta mañana, la del día primero de julio de 1969, quiero intentar una oración que sea personal, no heredada. Sé que se trata de una empresa que exige una sinceridad más que humana. Es evidente, en primer término, que me está vedado pedir. Pedir que no anochezcan mis ojos sería una locura; sé de millares de personas que ven y que no son particularmente felices, justas o sabias. El proceso del tiempo es una trama de efectos y de causas, de suerte que pedir cualquier merced, por ínfima que sea, es pedir que se rompa un eslabón de esa trama de hierro, es pedir que ya se haya roto. Nadie merece tal milagro. No puedo suplicar que mis errores me sean perdonados; el perdón es un acto ajeno y solo yo puedo salvarme. El perdón purifica al ofendido, no al ofensor, a quien casi no le concierne. La libertad de mi albedrío es tal vez ilusoria, pero puedo dar o soñar que doy. Puedo dar el coraje, que no tengo; puedo dar la esperanza que no esta en mí; puedo enseñar la voluntad de aprender lo que sé apenas o entreveo. Quiero ser recordado menos como poeta que como amigo; que alguien repita una cadencia de Dunbar o de Frost o del hombre que vio en la medianoche el árbol que sangra, la Cruz, y piense que por primera vez la oyó de mis labios. Lo demás no me importa; espero que el olvido no se demore. Desconocemos los designios del universo, pero sabemos que razonar con lucidez y obrar con justicia es ayudar a esos designios, que no nos serán revelados.”
Quiero morir del todo; quiero morir con este compañero, mi cuerpo.”
“Una oración” se incluye en “Elogio de la sombra” una colección de versos de Borges publicada en 1969.
Nadie es la patria. Ni siquiera el jinete
que, alto en el alba de una plaza desierta,
rige un corcel de bronce por el tiempo,
ni los otros que miran desde el mármol,
ni los que prodigaron su bélica ceniza
por los campos de América
o dejaron un verso o una hazaña
o la memoria de una vida cabal
en el justo ejercicio de los días.
Nadie es la patria. Ni siquiera los símbolos.
Nadie es la patria. Ni siquiera el tiempo
cargado de batallas, de espadas y de éxodos
y de la lenta población de regiones
que lindan con la aurora y el ocaso,
y de rostros que van envejeciendo
en los espejos que se empañan
y de sufridas agonías anónimas
que duran hasta el alba
y de la telaraña de la lluvia
sobre negros jardines.
La patria, amigos, es un acto perpetuo
como el perpetuo mundo. (Si el Eterno
Espectador dejara de soñarnos
un solo instante, nos fulminaría,
blanco y brusco relámpago, Su olvido.)
Nadie es la patria, pero todos debemos
ser dignos del antiguo juramento
que prestaron aquellos caballeros
de ser lo que ignoraban, argentinos,
de ser lo que serían por el hecho
de haber jurado en esa vieja casa.
Somos el porvenir de esos varones,
la justificación de aquellos muertos;
nuestro deber es la gloriosa carga
que a nuestra sombra legan esas sombras
que debemos salvar.
Nadie es la patria, pero todos lo somos.
Arda en mi pecho y en el vuestro, incesante,
ese límpido fuego misterioso.
JORGE LUIS BORGES – Oda escrita en 1966
Fervor de Buenos Aires (1923)
Prefácio
Eu não reescrevi o livro. Atenuei os seus excessos barrocos, alisei as arestas, risquei o sentimentalismo e a imprecisão e, ao longo desta obra ora agradável, ora incómoda, senti que o rapaz que a escreveu em 1923 era já essencialmente —O que significa essencialmente? — o cavalheiro que agora se resigna ou se corrige. Nós somos os mesmos; nós dois não acreditamos no fracasso e no sucesso, nas escolas literárias e seus dogmas; ambos somos devotos de Schopenhauer, Stevenson e Whitman. Para mim, Fervor de Buenos Aires prefigura tudo o que eu faria depois. Pelo que insinuava, pelo que prometia de alguma forma, foi generosamente aprovado por Enrique Diez-Canedo e Alfonso Reyes.
Como os de 1969, os jovens de 1923 eram tímidos. Temerosos de uma pobreza íntima, eles tentaram como agora escondê-la sob inocentes notícias barulhentas. Eu, por exemplo, me propus metas demais: imitar certa feiúra (de que gostava) de Miguel de Unamuno, ser um escritor espanhol do século XVII, ser Macedonio Fernández, descobrir as metáforas que Lugones já havia descoberto, Cantei uma Buenos Aires de casas baixas e, para o oeste ou para o sul, de vilas com portões.
Naquela época, eu procurava crepúsculos, subúrbios e infortúnios; agora, as manhãs, o centro e a serenidade.
J.L.B.
Fragmento Como nacen un texto
Jorge Luis Borges
Empieza por una suerte de revelación. Pero uso esa palabra de un modo modesto, no ambicioso. Es decir, de pronto sé que va a ocurrir algo y eso que va a ocurrir puede ser, en el caso de un cuento, el principio y el fin. En el caso de un poema, no: es una idea más general, y a veces ha sido la primera línea. Es decir, algo me es dado, y luego ya intervengo yo, y quizá se echa todo a perder. En el caso de un cuento, por ejemplo, bueno, yo conozco el principio, el punto de partida, conozco el fin, conozco la meta. Pero luego tengo que descubrir, mediante mis muy limitados medios, qué sucede entre el principio y el fin. Y luego hay otros problemas a resolver; por ejemplo, si conviene que el hecho sea contado en primera persona o en tercera persona. Luego, hay que buscar la época; ahora, en cuanto a mí “eso es una solución personal mía”, creo que para mí lo más cómodo viene a ser la última década del siglo XIX. Elijo “si se trata de un cuento porteño”, lugares de las orillas, digamos, de Palermo, digamos de Barracas, de Turdera. Y la fecha, digamos 1899, el año de mi nacimiento, por ejemplo. Porque ¿quién puede saber, exactamente, cómo hablaban aquellos orilleros muertos?: nadie. Es decir, que yo puedo proceder con comodidad. En cambio, si un escritor elige un tema contemporáneo, entonces ya el lector se convierte en un inspector y resuelve: “No, en tal barrio no se habla así, la gente deal clase no usaría tal o cual expresión.” El escritor prevé todo esto y se siente trabado. En cambio, yo elijo una época un poco lejana, un lugar un poco lejano; y eso me da libertad, y ya puedo fantasear o falsificar, incluso. Puedo mentir sin que nadie se dé cuenta, y sobre todo, sin que yo mismo me dé cuenta, ya que es necesario que el escritor que escribe una fábula “por fantástica que sea” crea, por el momento, en la realidad de la fábula.
EL SER Y EL TIEMPO (Juan Arnau Navarro)
Borges juega como uma divinidade hindu.Entre la metáfora y el mito, el infinito. Mueve coqueto sus alas en el estudio de la calle de Maipú, y desata un terremoto en Japón. Como en un sueño, Borges es la mariposa, el temblor y las emociones que convoca. Pero él sabe que no existe, por eso ríe y se desdobla. Conoce el poder del alma de crear su propia compañía. Hay en su mueca algo del espanto de quien ha visto profundidades: el eterno retorno de ruinas circulares, la nadería de la personalidad, copia de una copia (que diría Plotino). Es el ciego que ha visto y por eso teme a los espejos. Pero no se arranca los ojos para pensar, como el matemático, sabe que la apariencia es verdadera. En su actitud hay algo de filosófico aunque, claro está, él lo niega. Él es un simple amante de los libros, de las mitologías nórdicas, de ciertos ensueños acaecidos en Babilonia o en el Ganges. Como un tahúr, baraja relatos de épocas y lugares lejanos, inclinado sobre el escritorio de un arrabal de Buenos Aires.
Borges cree que la verdadera historia es más pudorosa que la oficial y que sus fechas esenciales son secretas. Prefiere ser poeta que santo, el asombro al estupor. Entre los modernos, se rodea de reaccionarios (Schopenhauer, Chesterton, Coleridge), y huye de los místicos. Aunque a veces ha confesado algún que otro rapto. Cuando lee, mira de reojo el pasaje del Uno al dos, de la Unidad a la multiplicidad y de ésta al infinito. Escéptico, le interesan las ideas teológicas por lo que encierran de singular y maravilloso. Nunca quiso ser un gurú. Algunos de sus lectores se lo agradecemos.
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Como poeta, considera que agregar a la mariposa que se percibe otra objetiva es una duplicación innecesaria
La filosofía de Borges es lúdica y literaria, pero no por ello menos seria. Al contrario, huye continuamente del dogmatismo y en su escapada es capaz de alguna pirueta. Algunos de sus textos tienen una gran afinidad con el budismo. Pero Borges es un budista discreto. En ocasiones cae en el barroquismo y luego se arrepiente. No puede evitarlo, también es poeta. En uno de ellos refuta el tiempo, en el otro la personalidad. Son tan antiguas como la flecha de Zenón o el carro del Menandro, pero él las actualiza con agilidad y una ligerísima burla. Se mueve con soltura en el círculo hermenéutico. Estas dos enjundiosas palabras hacen referencia a algo muy simple: la estructura circular del entendimiento. Para conocer algo hay que buscarlo y quien lo busca es porque ya de algún modo lo conoce. Platón lo llamaba reminiscencia y Borges (siguiendo a Berkeley) lo formula así: “La retina y la superficie cutánea invocadas para explicar lo visual y lo táctil son a su vez superficies visuales y táctiles”.
Las consecuencias son vertiginosas. A Borges le divierte la posibilidad (que advirtió el budista Vasubandhu) de que no haya un objeto detrás de las impresiones de nuestros sentidos. Y se atreve a dar un paso más (el que dieron Hume y los budistas), al negar que haya un sujeto detrás de la percepción de los cambios. Berkeley niega la materia, Hume niega el espíritu. Y Borges, como un Buda feliz, ríe. Tan absurdo es hablar de una sustancia espiritual como de una material. La mente es un teatro donde aparecen fugazmente impresiones, se combinan, desaparecen y vuelven a aparecer trasmutadas. Negadas la materia y el espíritu, no hay razón para no negar también el tiempo, que no existe al margen del instante presente. Borges parece sugerir que no hay otra realidad que los procesos mentales, que todo es mente o proyección de la mente (individual y colectiva), pero no lo hace, pues debe huir del dogmatismo. Sin embargo, como poeta, considera que agregar a la mariposa que se percibe una mariposa objetiva es una duplicación innecesaria. Agregar a las diferentes impresiones un yo no es menos innecesario. Cada estado mental es autosuficiente. No hay yo y no hay tiempo. Chuang Tzu no “sueña” que es una mariposa, en ese preciso instante “es” una mariposa. Vivimos un eterno presente, y no es posible averiguar las fechas de las cosas.
El Borges budista dice que se equivoca quien define al yo como un conjunto privado de recuerdos
Todo esto es muy loco y Borges lo sabe. Pero estos vértigos no lo marean. En otros escritos se propone demostrar que el concepto de individuo es una trasoñación (“consentida por el engreimiento y el hábito”). La ausencia del yo fue uno de los temas esenciales del budismo, pero en Borges las consecuencias son más literarias que morales. Anticipa la “desaparición del autor” de Blanchot y sobre ella edifica su estética. De este modo justifica su costumbre de barajar obras literarias, de mezclarlas y asociarlas como haría el cabalista con sus letras y el alquimista con sus esencias. Un modo de hacerse invisible, de confundir al lector con el escritor, de ilustrar el eterno plagio de lo literario. Mientras el escritor baraja palabras, Borges baraja obras enteras. El sueño de Coleridge y el palacio que erigió Kublai Kan (visto en un sueño), Pierre Menard y su versión del Quijote (idéntica al original), el chamán que sueña una criatura y la inscribe en la realidad (para constatar que es soñado por otro), los ejemplos se multiplican como senderos que se bifurcan.
Se equivoca, nos dice el Borges budista, quien define al yo como un conjunto privado de recuerdos. Los recuerdos no están en ningún sitio, pertenecen al tiempo. Quienes confunden la memoria con un almacén desconocen su naturaleza. Uno puede sentirse forastero en sus jornadas antiguas. La memoria es indiferente a la codicia del yo. También se engañan quienes imaginan el yo como una sucesión de estados de ánimo. La sensación de frío al atravesar un zaguán no se añade a un yo preexistente. No hay tal yo. ¿Eres tú quien lee estas líneas o ya eres otro?, pregunta emulando a Heráclito.
Entre Pirrón y Aristóteles, Borges eligió al que nada sabe. El idioma nos cuela el yo, también la escuela, el censo o los impuestos. Pero el yo carece de lógica y se alimenta de contradicciones. El escéptico, sin embargo, no puede mantenerse fiel a sus postulados. Tan pronto ríe como llora, tan pronto codicia como renuncia, asumiendo la egolatría, tan romántica y productiva. Borges no es una cifra del sur, como el gaucho que arroja la navaja a Dahlmann, Borges es una cifra de oriente. Un cifra redonda y mágica, original y vacía. El yo es una urgencia lógica sin contenido, el punto inmóvil de la fuga del tiempo.