Sobre estilo.
(Ernesto Sábato)
O estilo é o homem, o indivíduo, o único: a sua forma de ver e sentir o universo, a sua forma de “pensar” a realidade, ou seja, aquela forma de misturar o seu pensamento com as suas emoções e sentimentos, o seu tipo de sensibilidade, aos seus preconceitos e manias, aos seus tiques.
Não faz sentido, portanto, referir-se ao estilo de Pitágoras no seu teorema. A linguagem da ciência pura pode e, a rigor, deve ser substituída por símbolos puros e abstratos, tão impessoais quanto as figuras platônicas a que se referem.
A ciência é genérica e a arte é individual, e é por isso que existe estilo na arte e não existe estilo na ciência. Arte é a forma de ver o mundo com uma sensibilidade intensa e curiosa, forma única de cada um de seus criadores e intransferível.
Os retóricos consideravam o estilo um ornamento, uma linguagem festiva. Quando, na verdade, é a única maneira de um artista dizer o que você tem a dizer. E se o resultado é inusitado, não é porque a linguagem é inusitada, mas porque a forma como o homem vê o mundo o é. O que a linguagem faz então é aderir a essa visão como as meias sutis dos dançarinos aos músculos de seus corpos.
O artista é um indivíduo dotado de uma sensibilidade e inteligência que nos são comuns, que vê coisas onde os outros nada veem. Ou onde outros não viram nada. Porque, precisamente, uma das missões da arte é revelar realidades que outros não percebem: um lado, uma perspectiva, um enredo, um esplendor, uma nuance.
Ernesto Sábato(O escritor e seus fantasmas)