Nesta estória de hoje, o Sr. Wilson, meu pai, vai ser apenas o coadjuvante, o que não diminui em nada o seu papel .
Mas a atriz principal é a Sra. Amália que cumpriu até o fim dos seus dias nesta terra prometida, a multitarefa de criar 9 filhos e adotar um bebê quando a prole mais nova já andava passeando na adolescência pelo bairro do Cristal em Porto Alegre. Com o apoio das duas filhas mais velhas, que supriram a ausência do Sr. Wilson
Que por conta de seu trabalho como estivador no Porto de Rio grande, o impediu ou serviu como desculpa, para um processo de separação, sem culpa registrada em cartório.
Eu tenho uma lembrança muito clara de um dia na casa de madeira na Vila dos Estivadores, meus dois heróis estavam discutindo a relação em alto e bom tom. Não sei de onde, mas hoje eu desconfio, me veio uma voz que gritou com os dois: – Calem a boca! – Os dois ficaram me olhando assustados e não lembro mais de ver os dois discutindo.
Hoje eu entendo que além de já rolar uma incompatibilidade de gênios muito por conta de crenças religiosas divergentes, as escassas condições financeiras foram noventa por cento responsáveis.
Outra lembrança que vai comprovar o parágrafo acima: Minha mãe estava reclamando de que estava faltando alguma coisa em casa: – 90 por cento era comida. O Sr. Wilson respondeu: – O que você quer mulher? – Quer que eu dê um tiro em Deus?
E aqui chegamos ao x da questão.
A sua crença religiosa, que lhe deu forças para lidar com todas estas adversidades e ainda praticar a caridade e elevar o amor ao próximo ao seu mais alto nível ( o do perdão), conforme narrado na crônica Roda de Estiva, do livro “Canção para Iara” onde o ator principal era o Sr. Wilson.
Vou colocar como apêndice aqui, afinal nem todo mundo tem o livro em mãos para conferir, e encerro com um texto que eu cortei do livro mas que aqui ajuda a compor o retrato falado de Dona Amália.
PS:1
“Dois anos mais tarde, minha mãe, evangélica (adventista do 7º dia) de carteirinha, e digo isso sem sentido pejorativo, foi até a cadeia onde o dito cujo cumpria sua pena e, seguindo fielmente os mandamentos que praticava, disse que o perdoava.”
PS: 2
Dona Amália
Diariamente, com a exigência de alimentar 11 bocas, minha mãe cozinhava 1 kg de feijão.
Todo dia abria a Bíblia em qualquer página e deixava aberta, na cozinha.
Enquanto escolhia o feijão, para cozinhar, lia silenciosamente o grande livro.
Em suas mãos, nenhum terço, nenhum rosário. Apenas grãos que ela cuidadosamente selecionava, enquanto seu coração falava com Jesus sobre a vida, fé, trabalho, filhos, amor e caridade.
por: adolfo.wyse@gmail.com