Sou um homem simples. O que não quer dizer que sou humilde, e não vamos aqui repetir o erro de comparar humildade com pobreza sempre que escutamos alguém dizer: venho de uma família humilde. Quem não veio neste nosso país de terceiro mundo?, a não ser nobres filhos de uma realeza e os herdeiros das capitanias hereditárias, os filhos dos senhores de engenho, educados nas cortes europeias.
Antes da primeira calça Lee chegar ao Brasil, e chegou antes da Levis, a moda masculina para um paisano pobre, era quase um uniforme! Calça tergal, camisa volta ao mundo e um sapato que tinha que durar, até poder comprar um novo, quando o solado começava a furar. E era a roupa social do domingo. Assim como hoje em dia, os pobres vendiam um Rim para ostentar uma roupa de marca, até, os jeans, as camisetas e os tênis, detonarem uma revolução dos costumes.
Já falei de moda e de costumes. Vamos falar então de ansiedade, este mal que atinge e afeta, 99% da população. Achei que já estava imune, que as minhas defesas emocionais estavam a postos, quando fui mais uma vez vítima dela, e saquei então onde foi que abri a guarda. Pelo menos desta vez não recai buscando aquelas populares válvulas de escape: fumar, beber, comer, jogar, ou comprar. E foi quando tive o primeiro pensamento, e tudo começa assim, de comprar um livro, quando tenho ainda lacrados, três livros do Dostoiévski, e não são nenhum livrinho de bolso, mas três tijolos com mais de 500 páginas cada um.
Fui buscar então a origem do meu desconforto, e não foi preciso consultar nenhum terapeuta para sacar, que era interno, resultado de falha em um dos aplicativos essenciais para o saudável fluxo do sistema operacional. E como alguém já disse, o corpo fala, o corpo dói. Basta uma dor de dente ou unha encravada para a ansiedade começar a botar as manguinhas de fora, e perturbar o sistema nervoso central.
O bom de se morar em uma cidade grande como Rio, São Paulo, é que ninguém repara se você está usando a mesma roupa que usou ontem. A não ser no ambiente de trabalho, onde, as más línguas, vão logo começar a especular, que você virou a noite na boemia, na gandaia, como se diz, onde o menu de degustação é variado. Samba, sexo, suor e cervejas. Ou então, se for mulher, entrar no metrô e ser escaneada de baixo para cima por outras mulheres. Começando pelos sapatos, a saia ou vestido, a bolsa e os cabelos.
Ansiedade vinculada a roupas é algo inescapavel a todos os seres humanos. Parabens, Sidney, pela sacada.